Desafio pela preservação: Estátua do Juquinha, marco da Serra do Cipó, sofre com o tempo e vandalismo

O descuido com a estátua é notado e lamentado pela população local

Por Plox

10/06/2023 08h05 - Atualizado há mais de 1 ano

A estátua de Juquinha, um personagem que faz parte do imaginário dos moradores da Serra do Cipó, tem enfrentado o cruel passar do tempo e o vandalismo, clamando por atenção e cuidados. Situada em Santana do Riacho, um distrito a 100 quilômetros de Belo Horizonte, a figura, com seu sorriso e mãos juntas, tornou-se símbolo de acolhimento aos viajantes da região há 36 anos. Contudo, a situação do monumento é crítica, sofrendo com a degradação causada pela negligência.

 

 

Foto: Reprodução

O cenário atual

Os danos causados à escultura são visíveis e abrangentes. A estátua já perdeu parte do dedão da mão direita, possui uma fenda na perna e o contorno do chapéu encontra-se quebrado. Além disso, há buracos nos braços, trincas e fissuras por toda a sua superfície. Mesmo uma pichação de 10 anos atrás perdeu sua cor original, contrastando com o branco do monumento.

O descuido com a estátua é notado e lamentado pela população local. “O Juquinha é um símbolo da Serra do Cipó, mas está abandonado pelo poder público. Estão deixando ele se acabar, o que é um desrespeito e uma covardia", observa Dilceu Moreira da Silva, administrador de um restaurante próximo ao monumento.

Plano de restauro

Existe um projeto de restauração aprovado nas leis de incentivo à cultura federais, mas que ainda busca patrocínio e precisa de alinhamento entre o poder público e a comunidade. De acordo com a artista plástica Virgínia Ferreira, criadora da estátua, a restauração demandaria a contratação de 15 pessoas e duraria cerca de dois meses. O processo envolveria a aplicação de fungicida, substituição de ferragens deterioradas, reforma estrutural, limpeza e proteção da obra.

O legado de Juquinha

A figura gigantesca do Juquinha representa um ermitão que perambulava pelas cachoeiras da região, colhendo sempre-vivas e outras flores para confeccionar buquês destinados aos visitantes da rodovia MG-010. A estátua de cimento e tinta branca, erguida em um dos cumes conhecidos como Alto Palácio, traz consigo a memória deste icônico personagem.

A verdadeira identidade do Juquinha era José Patrício, um morador local que morreu em 1983, deixando para trás uma série de lendas e histórias folclóricas. Entre elas, a de que se alimentava de escorpiões, que já havia sido picado por mais de 100 cobras, e que possuía uma doença rara que o fez perder a pulsação uma noite, sendo encontrado dentro de um caixão.

A busca por apoio

Virgínia Ferreira ressalta a necessidade urgente de restauro da obra, e revela a existência de um projeto aprovado pelo Ministério da Cultura em dezembro de 2022. No entanto, a falta de patrocínio tem dificultado o início das obras. “Quem patrocinar vai poder descontar os gastos no Imposto de Renda e ainda expor sua marca", explica a artista.

A restauração do monumento implica em desafios logísticos, dada a localização da estátua. Seriam necessários geradores de energia elétrica, andaimes, além de providenciar acomodação, transporte e alimentação para os trabalhadores. A expectativa é de que a intervenção dure cerca de dois meses.

Um apelo por cuidado

Dilceu Moreira da Silva, além de evidenciar a falta de cuidado com o monumento, aponta para a necessidade de investimento em infraestrutura ao redor da estátua, como sinalização adequada, lixeiras e iluminação para permitir fotos noturnas. Segundo ele, já houve casos de pessoas que passaram direto pela estátua por falta de sinalização adequada.

A situação da estátua do Juquinha, símbolo da Serra do Cipó, reflete um problema maior de preservação do patrimônio cultural. À medida que a espera por um patrocinador continua, a figura amigável e emblemática que povoa o imaginário dos moradores e visitantes se desfaz silenciosamente, servindo como um lembrete da necessidade de investimento e cuidado com a cultura e a história da região.

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