"Superação Inesperada: Como uma menina de 3 anos resistiu a 40 dias sem alimentação"

"Superação Inesperada: Como uma menina de 3 anos resistiu a 40 dias sem alimentação"

Por Plox

10/06/2023 08h44 - Atualizado há mais de 1 ano

Um episódio que chocou o Brasil veio à tona na última semana: uma criança de três anos foi encontrada em estado crítico de desnutrição após ficar mais de 40 dias sem ingestão de alimentos. O incidente ocorreu em Rio Claro, uma cidade do interior de São Paulo.

 

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Conforme revelado em um boletim médico divulgado pela Santa Casa de Rio Claro, a pequena garota apresentou sérias sequelas devido à negligência alimentar, como dificuldades para sentar, falar e andar. A desnutrição marasmática aguda foi o diagnóstico, uma condição caracterizada por uma grave deficiência de calorias e proteínas, que provoca perda de peso, massa muscular, gordura e desidratação, sendo comum em lactentes e crianças pequenas, conforme explicado no Manual MSD de Diagnóstico e Tratamento.

De acordo com a endocrinologista Thais Mussi, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), a sobrevivência de uma pessoa saudável e adequadamente hidratada pode se estender até três semanas sem comida. Entretanto, esse período pode variar conforme o organismo de cada indivíduo. No caso da pequena menina, os especialistas apontam para a possível manutenção de hidratação e o fato de a criança estar fisicamente inativa como fatores que podem ter contribuído para sua resistência.

A nutricionista Vanessa Furstenberger elucida que o corpo humano, quando privado de alimentos, começa a consumir suas próprias fontes de energia em uma sequência específica - carboidratos, lipídios e, finalmente, proteínas. Esta última fase, marcada pela degradação de proteínas, ou tecidos do corpo, representa um ponto crítico com efeitos colaterais significativos para a saúde.

No contexto das crianças, os efeitos da desnutrição podem ser ainda mais devastadores. O pediatra Paulo Telles, da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), alerta que as consequências de longo prazo podem incluir atraso no crescimento e neurodesenvolvimento, redução na resolução de problemas e alteração do sistema imunológico, predispondo a ocorrência de infecções.

Thais Mussi, endocrinologista, esclarece que em situação de fome, o organismo entra em "modo de sobrevivência", desencadeando uma série de reações fisiológicas para preservar a função corporal, incluindo a quebra de reservas de glicogênio, a degradação de gorduras e, finalmente, a utilização de proteínas para energia.

Desafios do jejum prolongado: possíveis efeitos na saúde

Para entender completamente os efeitos de uma privação alimentar prolongada, é importante considerar como o corpo humano responde em tais circunstâncias. A endocrinologista Thais Mussi, da SBEM, descreveu alguns dos processos que o corpo humano inicia para se manter funcionando durante períodos de jejum.

Após 24 a 48 horas sem comida, o corpo inicia a glicogenólise, processo no qual usa suas reservas de glicogênio no fígado e nos músculos. O glicogênio é quebrado para liberar glicose, que atua como fonte de energia.

Se a privação alimentar se prolongar, após alguns dias até duas semanas, o corpo entra em estado de cetose. Nesta fase, as gorduras são quebradas para obter energia, levando à produção de corpos cetônicos, que podem ser utilizados pelo cérebro e outros tecidos como fonte de energia.

Se o jejum se estender ainda mais, por duas a três semanas, o corpo começa a quebrar proteínas nos músculos e em outros tecidos para obter energia, processo que pode resultar em perda de massa muscular e eventual falência de órgãos.

"Durante esse tempo, ocorrem muitos processos metabólicos e hormonais para tentar manter o corpo funcionando. Por exemplo, a secreção de insulina diminui para reduzir a utilização de glicose, e o glucagon e o cortisol aumentam para promover a quebra de gordura e proteína", esclarece a Dra. Mussi.

A recuperação de um jejum prolongado: uma tarefa delicada

A pequena menina, atualmente, se encontra internada e passando por um processo de reintrodução alimentar. As médicas Flávia Meneghetti e Samila Batelochi Gallo, responsáveis pela sua recuperação, explicaram que, inicialmente, a dieta da menina é pastosa, com um aumento gradual de proteínas e calorias, acompanhado de suplementação de vitaminas e minerais adequados para a sua situação atual.

Tassiane Alvarenga, também da SBEM, alerta que a reintrodução alimentar após um jejum prolongado deve ser feita sob orientação médica, para evitar a ocorrência da síndrome de realimentação. Esta condição, que pode ser letal, causa alterações neurológicas, sintomas respiratórios, arritmias e insuficiência cardíaca poucos dias após a realimentação. A síndrome é causada pela sobrecarga na ingestão calórica e pela reduzida capacidade do sistema cardiovascular.

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