Bolsonaro diz que não confiou em Delgatti e o repassou à Defesa
Em depoimento ao STF, ex-presidente afirmou que hacker foi levado por Zambelli, mas que não houve confiança para seguir adiante com a conversa
Por Plox
10/06/2025 17h51 - Atualizado há 2 dias
Durante depoimento prestado ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira (10), Jair Bolsonaro confirmou que recebeu Walter Delgatti Neto, o hacker conhecido por seu envolvimento em invasões a sistemas judiciais. O encontro, segundo o ex-presidente, foi organizado pela deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), que o levou ao Palácio da Alvorada com o objetivo de discutir a segurança das urnas eletrônicas.

Contudo, Bolsonaro afirmou que, ao conversar com Delgatti, percebeu que não poderia confiar nele. Sem conhecimentos técnicos sobre informática, decidiu encaminhá-lo ao Ministério da Defesa. “Carla Zambelli levou o hacker, e eu recebi. Não entendo nada de informática, não senti confiança nele, e como de praxe, de acordo com o ministério, eu encaminhei o hacker para a Comissão de Transparência Eleitoral e nunca mais tive contato com ele”, declarou ao ministro Alexandre de Moraes.
Ao ser questionado se recebeu algum retorno do então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, ou da própria Zambelli após a reunião, Bolsonaro respondeu que não. Afirmou também desconhecer se o hacker chegou a ser recebido pelo titular da pasta.
A declaração acontece um dia depois de Mauro Cid, tenente-coronel e ex-ajudante de ordens do ex-presidente, confirmar, também em depoimento ao STF, que Zambelli agendou o encontro entre Bolsonaro e Delgatti. Segundo Cid, a intenção era avaliar tecnicamente a possibilidade de fraudes nas urnas eletrônicas. Ele relatou que Bolsonaro solicitou que o então ministro recebesse os dois, e que uma reunião chegou a acontecer no Ministério da Defesa, mas disse não saber se Paulo Sérgio estava presente. Ainda conforme Cid, os estudos realizados não encontraram indícios de adulterações nas eleições de 2022.
Atualmente, Zambelli está na Itália e é considerada foragida da Justiça brasileira. A deputada foi condenada pela Primeira Turma do STF a uma pena de dez anos de prisão em regime fechado, além de multa equivalente a 2 mil salários mínimos. A condenação se deu por invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e por falsidade ideológica.
Segundo o tribunal, Zambelli teria orientado Delgatti a acessar sistemas do CNJ com o objetivo de adulterar documentos, como alvarás de soltura e quebras de sigilo bancário, além de ter emitido um falso mandado de prisão contra o ministro Moraes. Ela nega as acusações.
Zambelli ainda responde a outro processo no STF, no qual é acusada de porte ilegal de arma de fogo e constrangimento ilegal. O julgamento deste caso foi suspenso em março, após o ministro Nunes Marques pedir mais tempo para análise.
Em entrevista à jornalista Andreia Sadi, do portal G1, Zambelli afirmou que se apresentará às autoridades italianas assim que houver solicitação formal de extradição por parte do Ministério da Justiça brasileiro. Caso o pedido seja aceito, pretende requerer que cumpra a pena em território italiano.
'Carla Zambelli levou o hacker, e eu recebi. Não entendo nada de informática, não senti confiança nele', afirmou Bolsonaro ao STF