Mauro Cid é confrontado com áudio durante interrogatório no STF
Advogado de Jair Bolsonaro apresenta gravação em que Cid relata que ex-presidente descartou ação golpista após derrota eleitoral
Por Plox
10/06/2025 07h28 - Atualizado há 3 dias
O Supremo Tribunal Federal (STF) iniciou a fase de interrogatórios no inquérito que apura uma suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições presidenciais de 2022. O primeiro a ser ouvido foi o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro. Durante a audiência realizada nesta segunda-feira (9), o advogado de Bolsonaro, Celso Vilardi, apresentou um áudio gravado por Cid, obtido pela Polícia Federal, como forma de confrontá-lo.

Na gravação, enviada via WhatsApp a um general, Cid comenta as reações de Bolsonaro logo após a derrota nas urnas. Segundo o militar, o ex-presidente havia desistido de qualquer tipo de mobilização mais radical contra o resultado eleitoral.
\"Ele não quer que ninguém fique pressionando. Conversou com Valdemar [Costa Neto] e desconversou diante das sugestões do general Pazuello sobre o uso do artigo 142\"
, afirmou Cid no áudio.
Questionado por Vilardi durante o depoimento, Cid alegou não se lembrar da mensagem, mas indicou que provavelmente havia sido enviada ao general Freire Gomes, então comandante do Exército. O militar disse que mantinha contato com ele para atualizar sobre o estado emocional e as decisões do presidente. Também afirmou não se recordar de uma reunião entre Bolsonaro e empresários citada na gravação.
O áudio, conforme o conteúdo revelado, traz ainda menções a encontros de Bolsonaro com empresários como Luciano Hang, Meyer Nigri e um nome ligado à Centauro. Durante essas conversas, o então presidente teria desencorajado qualquer ação radical e alertado os empresários de que seriam os mais prejudicados num eventual governo de Lula, caso houvesse enfrentamento institucional.
Outro ponto relevante do depoimento de Cid foi a implicação direta do general Walter Braga Netto, apontado como o responsável por captar recursos financeiros para sustentar os acampamentos nos quartéis do Exército após a eleição. O militar afirmou que não se envolvia com os financiadores, mas que Braga Netto tinha contato direto com a tesouraria do PL para isso. Segundo ele, foi o próprio Braga Netto quem levou o dinheiro até o Palácio da Alvorada.
Cid também mencionou o major Rafael de Oliveira como alguém que o procurou pedindo recursos para financiar a atuação dos chamados \"kids pretos\". Ele declarou que o dinheiro entregue foi atribuído ao setor do agronegócio, repetindo informações já prestadas em sua delação premiada.
Braga Netto é um dos oito réus denunciados pela Procuradoria-Geral da República por compor o chamado \"núcleo crucial\" da tentativa golpista, e deve ser ouvido por videoconferência ainda nesta etapa do processo, já que está preso em uma unidade militar no Rio de Janeiro.
Mauro Cid, que serviu como assessor direto de Bolsonaro de 2019 a 2022, foi figura central nos bastidores da presidência. Com formação pela Academia Militar das Agulhas Negras e filho de um general colega de Bolsonaro, ele transitava livremente entre o Palácio do Planalto e o Palácio da Alvorada.
Sua primeira prisão ocorreu em maio de 2023, ligada à suposta fraude em cartões de vacinação. Após um acordo de colaboração premiada homologado pelo STF, ele foi libertado em setembro, mas voltou à prisão em março de 2024 devido ao vazamento de áudios comprometedores. Desde maio de 2024, está em liberdade provisória, com tornozeleira eletrônica e restrições de comunicação e deslocamento.
Em março de 2025, Cid tornou-se réu, junto a outros membros do núcleo político da trama golpista, incluindo o próprio Bolsonaro. Ele responde pelos crimes de tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, envolvimento com organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado — que somam até 43 anos de reclusão.
O inquérito segue em andamento, com expectativa de mais revelações ao longo dos próximos interrogatórios conduzidos pelo Supremo Tribunal Federal.