Morre paciente após agressões em clínica de reabilitação na Grande SP

Funcionário confessa crime e aponta participação de outros na morte de Jarmo Santana

Por Plox

10/07/2024 20h13 - Atualizado há 3 meses

Um funcionário de uma clínica de reabilitação para dependentes químicos em Cotia, na Grande São Paulo, foi preso após confessar à Polícia Civil que torturou e matou o paciente Jarmo Celestino de Santana, de 55 anos. Matheus de Camargo Pinto, de 24 anos, afirmou que além dele, outros indivíduos também participaram das agressões.

Foto: Reprodução

Agressões filmadas e compartilhadas

Matheus filmou Jarmo com as mãos amarradas e sentado em uma cadeira na clínica Comunidade Terapêutica Efata. No vídeo, outros quatro homens aparecem rindo. Além disso, Matheus confirmou as agressões em uma mensagem de voz compartilhada nas redes sociais. "Cobri no cacete, cobri... chegou aqui na unidade... pagar de brabo... cobri no pau. Tô com a mão toda inchada", disse ele na gravação.

Interrogatório revela detalhes da tortura

Durante seu interrogatório, Matheus contou que Jarmo foi agredido pelos agentes que o levaram à clínica. Eles o amarraram enquanto o removiam de casa, onde morava com a mãe. Segundo Matheus, os donos da clínica, Cleber Fabiano da Silva e Terezinha de Cássia de Souza Lopes da Conceição, ajudaram a conter Jarmo na noite de sexta-feira (5), após ele chegar "transtornado psicologicamente".

Matheus afirmou que foi necessário uso de força e que Jarmo foi "arremessado ao solo". Ele descreveu como segurou os braços do paciente enquanto Cleber segurava os joelhos e Terezinha a cintura.

Novo surto e mais agressões

No sábado (6), Jarmo teria acordado "surtado" e tentado agredir outros internos. Matheus e outros monitores intervieram, resultando em novas agressões. Matheus disse que aplicou um "mata-leão" em Jarmo, o que dificultou sua respiração. No domingo (7), após deslocar o ombro do paciente ao puxar seu braço, Jarmo foi levado ao hospital, medicado e retornou à clínica.

Na segunda-feira (8), ao levar o almoço para Jarmo, Matheus encontrou o paciente caído no chão e sem responder. Jarmo foi novamente levado ao hospital, onde morreu. Médicos constataram lesões compatíveis com agressões físicas.

Audiência de custódia e antecedentes criminais

Na terça-feira (9), Matheus passou por audiência de custódia e teve sua prisão em flagrante convertida em preventiva. Ele já tinha antecedentes criminais, incluindo resistência à polícia e agressão contra uma mulher. A defesa de Matheus não foi localizada para comentar.

Defesa dos donos da clínica

Cleber e Terezinha, os proprietários da clínica, negaram envolvimento nas agressões. "Eu não participei da agressão, em momento nenhum. Se eu soubesse da agressão, eu teria intervido com certeza", afirmou Cleber à TV Globo.

Investigação e resultados preliminares

A polícia investiga a participação de outras pessoas nas agressões e omissões que contribuíram para a morte de Jarmo. O exame necroscópico determinará a causa da morte. A Prefeitura de Cotia informou que a clínica era clandestina, sendo interditada pela Vigilância Sanitária. No entanto, os proprietários alegam que o estabelecimento está regularizado e autorizado a funcionar.

Histórico de maus-tratos

Cleber e Terezinha já responderam por maus-tratos contra adolescentes em outra unidade terapêutica em 2019. Eles foram acusados pelo Ministério Público de oferecer alimentação básica e obrigar os adolescentes a trabalhar como ajudantes de pedreiro. A defesa negou as acusações e o crime prescreveu, impedindo a aplicação de pena.

Esta situação trágica levanta sérias questões sobre a segurança e a regulamentação das clínicas de reabilitação, destacando a necessidade de uma supervisão mais rigorosa para proteger os pacientes vulneráveis.

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