PF ouvirá mulher que diz ter sido assediada por ex-ministro
As investigações preliminares foram iniciadas na sexta-feira (6), um dia após o portal Metrópoles noticiar que um grupo de mulheres procurou a Me Too para denunciar o então ministro.
Por Plox
10/09/2024 16h46 - Atualizado há 4 meses
A Polícia Federal busca esclarecimentos sobre as denúncias de assédio sexual contra o ex-ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida, em um caso que já provocou a demissão do ministro pelo presidente Lula. Uma das mulheres que afirmou ter sido assediada deve prestar depoimento ainda nesta terça-feira (10), segundo informações da organização de apoio a vítimas de violência sexual Me Too.
Denúncias e início das investigações
As investigações preliminares foram iniciadas na sexta-feira (6), um dia após o portal Metrópoles noticiar que um grupo de mulheres procurou a Me Too para denunciar o então ministro. Entre as denunciantes estaria a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco. Devido ao sigilo judicial, os detalhes das acusações e o local do depoimento da mulher não foram divulgados para preservar sua identidade.
Poucas horas após o caso ganhar repercussão pública, a Me Too emitiu uma nota destacando as dificuldades enfrentadas pelas denunciantes para obter apoio institucional. A organização afirmou que, como ocorre frequentemente em casos de violência sexual envolvendo agressores em posições de poder, as vítimas encontram obstáculos para a validação de suas denúncias.
Demissão e novas nomeações
Diante das acusações, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva demitiu Silvio Almeida na sexta-feira, justificando a decisão pela "natureza das acusações" e pela "insustentabilidade" da permanência do ministro no cargo. Nesta segunda-feira (9), o presidente nomeou Macaé Evaristo, deputada estadual mineira pelo PT, para assumir o comando do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania.
Silvio Almeida nega acusações e questiona Me Too
Silvio Almeida, conhecido como advogado, professor universitário e referência nos debates sobre relações raciais e racismo, nega as acusações. Em uma nota divulgada na quinta-feira (5), Almeida descreveu as denúncias como “mentiras” e “ilações absurdas”, alegando falta de indícios objetivos de crime.
Thiago Turbay, advogado de Almeida, informou que a defesa ainda não teve acesso completo às acusações seis dias após o início das investigações. Na tentativa de obter esclarecimentos, a defesa do ex-ministro acionou a Justiça Federal para pedir explicações à Me Too, questionando os critérios de averiguação das denúncias e os protocolos da organização.
“O objetivo é única e exclusivamente pedir esclarecimento dos fatos que, até agora, não foram revelados nem ao Silvio [Almeida], nem à defesa, nem à sociedade brasileira”, disse Turbay, reforçando que a interpelação judicial não visa constranger as vítimas. Ele destacou a necessidade de entender os métodos de armazenamento e registro dos depoimentos, bem como as medidas de preservação das identidades das vítimas, para assegurar que um eventual processo não seja contaminado por vieses ou interesses.
Turbay também comentou que a demissão de Almeida antes da apuração dos fatos prejudica a defesa, alimentando na opinião pública uma percepção de culpa sem que as acusações tenham sido devidamente esclarecidas.
Resposta da Me Too
Em resposta, a Me Too Brasil argumentou que Almeida e sua equipe tentam desviar o foco das graves denúncias e desqualificar a atuação da organização. A Me Too se apresenta como uma entidade dedicada ao acolhimento de vítimas de violência sexual, oferecendo suporte psicológico, jurídico e de assistência social, além de atuar em campanhas de conscientização e advocacy.
“A denúncia é o primeiro passo para responsabilizar judicialmente um agressor, demonstrando que ninguém está acima da lei, independentemente de sua posição social, econômica ou política”, afirmou a Me Too Brasil em nota. A organização também reforçou seu papel crucial em dar voz às vítimas, especialmente quando os agressores são figuras poderosas ou influentes, enfrentando grandes forças e influências associadas ao poder do acusado.