Saúde

Sociedade Brasileira de Cardiologia lança cartilha para explicar nova diretriz de hipertensão

Material em linguagem acessível esclarece critérios de diagnóstico, uso de medicamentos, exames anuais e sinais de alerta, além de desmentir mitos sobre a pressão arterial

10/12/2025 às 08:58 por Redação Plox

A hipertensão atinge cerca de um terço da população brasileira e permanece entre as principais causas de infarto e AVC no país. Em setembro, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) divulgou a nova Diretriz Brasileira de Hipertensão, um documento técnico e detalhado, voltado a profissionais de saúde.

Nesta terça-feira (9), a entidade lançou uma cartilha em linguagem acessível para explicar, de forma direta, o que mudou e o que permaneceu igual no diagnóstico, no tratamento e nas metas de controle da pressão arterial.

O material, obtido pelo g1, tenta esclarecer mal-entendidos que circularam nas últimas semanas, como a ideia de que “12/8 virou doença” ou de que “todo mundo será obrigado a tomar remédio” — interpretações que, segundo a SBC, não correspondem ao que está escrito na diretriz.


Embora seja mais frequente na velhice, a hipertensão também é identificada em outras etapas da vida

Embora seja mais frequente na velhice, a hipertensão também é identificada em outras etapas da vida

Foto: Reprodução

Critério para diagnóstico de hipertensão permanece o mesmo

A cartilha reforça que não houve mudança no critério de diagnóstico. Para ser considerada hipertensa, a pessoa precisa apresentar pressão igual ou maior que 140/90 mmHg em, pelo menos, duas ocasiões diferentes.

Valores entre 120–139 mmHg para a pressão máxima (sistólica) e 80–89 mmHg para a mínima (diastólica) enquadram-se na chamada pré-hipertensão. Trata-se de um estágio de alerta, e não de uma doença estabelecida. A proposta é estimular acompanhamento mais atento e adoção de hábitos saudáveis antes que a pressão ultrapasse o limite considerado seguro.

Quando o uso de remédios é indicado

As recomendações sobre tratamento também seguem definidas com clareza. O uso de medicamentos é indicado nas seguintes situações:

  • Quando a hipertensão está confirmada (pressão ≥ 140/90 mmHg).
  • Quando pessoas com pressão entre 130–139/80–89 mmHg, classificadas como de alto risco cardiovascular, não conseguem controle após três meses de mudanças no estilo de vida.

A cartilha enfatiza que não se prescreve remédio apenas por ter pressão 12 por 8. Antes de iniciar medicação, é obrigatório avaliar intervenções não farmacológicas, como ajustes na alimentação, prática de atividade física, melhoria do sono e controle do estresse.

Medidas de estilo de vida começam a partir de 120/80 mmHg

O documento recomenda que, já a partir de 120/80 mmHg, sejam adotadas medidas não medicamentosas para reduzir o risco futuro de hipertensão e complicações:

  • Reduzir peso quando houver excesso.
  • Não fumar.
  • Praticar atividade física regular.
  • Controlar o estresse.
  • Garantir boa qualidade de sono.
  • Limitar o consumo de álcool.
  • Adotar alimentação com pouco sal e poucos ultraprocessados.

Meta de pressão fica mais rigorosa após início do tratamento

A nova diretriz orienta que, após o início do tratamento, a pressão seja reduzida para valores abaixo de 130/80 mmHg, tanto nas medições feitas em casa (MRPA) quanto na monitorização ambulatorial de 24 horas (MAPA).

Segundo o documento, metas mais baixas oferecem maior proteção para coração, cérebro, rins e vasos sanguíneos, órgãos que sofrem diretamente os efeitos da pressão alta descontrolada.

Medição em casa ajuda a evitar erros de diagnóstico

A cartilha destaca que medir a pressão apenas no consultório pode levar a interpretações equivocadas, seja por valores elevados naquele momento específico, seja por pressão aparentemente normal que não se sustenta em outros horários.

Por isso, em muitos casos, o médico deve solicitar a medição residencial (MRPA) ou a monitorização ambulatorial de 24 horas (MAPA). Para uma aferição confiável em casa, o documento orienta:

  • Usar aparelhos automáticos de braço que sejam validados.
  • Evitar treinar, comer ou tomar café na hora anterior à medição.
  • Esvaziar a bexiga e descansar por 5 minutos antes.
  • Manter as costas apoiadas, os pés no chão e o braço na altura do coração.
  • Realizar 3 medidas com intervalo de 1 minuto, sem conversar.

Exames anuais são obrigatórios para quem já tem hipertensão

Para pessoas com diagnóstico de hipertensão, a cartilha recomenda, ao menos uma vez por ano, um conjunto de exames voltados a identificar possíveis complicações silenciosas, especialmente em rins e coração.

Entre os exames citados estão: glicemia, colesterol, avaliação da função renal, análise de urina e eletrocardiograma.

Mitos e verdades: o que a cartilha esclarece

A parte mais didática do material responde diretamente a dúvidas que ganharam repercussão recente:

  • “12/8 virou doença.” Mito. Valores de 120/80 mmHg não caracterizam hipertensão. São um ponto de atenção para reforço de hábitos saudáveis.
  • “Todo mundo vai ter que tomar remédio.” Mito. Remédios são indicados apenas em casos de diagnóstico confirmado ou em pessoas com risco cardiovascular muito alto.
  • “Sal rosa é liberado.” Mito. Todo tipo de sal contém sódio. A orientação é reduzir a quantidade, não apenas trocar de variedade.
  • “Só medir no consultório basta.” Mito. Em muitos casos, MRPA e MAPA são fundamentais para evitar erros de diagnóstico.
  • “A meta mudou para < 130/80 mmHg.” Verdade. A diretriz ficou mais rigorosa com as metas de controle, em busca de maior proteção cardiovascular.

Sinais de alerta que exigem atendimento imediato

Além das orientações gerais, a cartilha lista sinais que exigem busca urgente por atendimento médico, especialmente quando associados a pressão muito alta. Entre eles:

  • Dor intensa no peito ou falta de ar.
  • Fraqueza ou dormência em um lado do corpo, fala enrolada ou confusão — sintomas compatíveis com AVC.
  • Dor de cabeça súbita e muito forte, visão turva, tontura ou desmaio.
  • Pressão ≥ 180/110 mmHg acompanhada de queixas como dor no peito, alterações de visão ou formigamento.
  • Em gestantes: dor de cabeça intensa, pontos luminosos na visão, inchaço súbito ou dor na parte alta do abdômen.

Ao reunir as orientações da diretriz em linguagem simples, a cartilha busca reforçar que controle rigoroso da pressão e mudanças de estilo de vida são pilares centrais na prevenção de infartos, AVCs e outras complicações associadas à hipertensão.

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