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Política
Câmara aprova PL da Dosimetria que pode reduzir pena de Bolsonaro
Após sessão tensa e madrugada de votações, deputados aprovam projeto que flexibiliza regras de dosimetria e execução penal para crimes contra o Estado democrático de direito, com potencial de cortar pena em regime fechado do ex-presidente para pouco mais de dois anos
10/12/2025 às 09:22por Redação Plox
10/12/2025 às 09:22
— por Redação Plox
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Após mais de sete horas de sessão extraordinária, o plenário da Câmara dos Deputados aprovou, na madrugada desta quarta-feira (10/12), o projeto de lei conhecido como PL da Dosimetria. A proposta, que agora segue para análise do Senado, recebeu 291 votos favoráveis e 148 contrários e pode reduzir de forma significativa a pena do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), condenado a 27 anos e três meses de prisão pelos crimes de golpe de Estado e abolição violenta do Estado democrático de direito.
Em sessão que avançou até o início da madrugada desta quarta-feira (10/12), o placar foi de 291 votos a favor e 148 contra; agora o texto segue para apreciação no Senado
Foto: Reprodução / Câmara dos Deputados.
O PL entrou em votação em uma sessão iniciada às 19h, mas só começou a ser discutido após as 23h30. O clima ficou tenso quando o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) foi retirado à força da cadeira da Presidência da Câmara, e jornalistas foram impedidos pela Polícia Legislativa de acessar o plenário.
Tensão em plenário e manutenção da pauta
Mesmo diante de apelos da base governista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para adiar o debate, o presidente da Câmara, Motta, manteve o projeto na pauta. O texto-base só foi aprovado às 2h27, depois de a oposição derrubar dois requerimentos para adiar a votação e cinco questões de ordem apresentadas para tentar obstruir a tramitação.
O líder do PT, Lindbergh Farias (RJ), criticou a postura de Motta ao lembrar a referência feita por ele a Ulysses Guimarães em seu discurso de posse. Motta reagiu e atacou o partido adversário ao afirmar que havia incoerência em recorrer à figura de Ulysses, já que o PT votou contra a Constituição de 1988, marcando mais um capítulo do desgaste entre os dois, que estão rompidos desde a aprovação do PL Antifacção.
O líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), defendeu o texto como o “acordo possível” e enfatizou que a sigla não conseguiu emplacar a anistia ampla pretendida, mas obteve um “degrau” na direção desejada. Segundo ele, Bolsonaro deu aval para que a bancada votasse a favor do projeto.
Relatório fala em reconciliação e critica anistia ampla
Relator da proposta, Paulinho da Força (Solidariedade-SP) agradeceu o apoio de Michel Temer (MDB) e Aécio Neves (PSDB-MG) e apresentou o parecer como um gesto de “reconciliação”, não de “esquecimento”. Na avaliação dele, o país não pode permanecer indefinidamente preso ao passado recente, e o projeto representaria um “caminho de equilíbrio” entre a manutenção integral das condenações e a anistia ampla, geral e irrestrita defendida pela oposição.
O cálculo feito a partir de seu relatório indica que a pena de Bolsonaro poderia cair de 27 anos e três meses de prisão para cerca de dois anos em regime fechado, com a redução do tempo total e mudanças nas regras de execução. Paulinho sustenta, em seu voto, a necessidade de “reduzir o cálculo das penas”, em vez de anular as condenações.
O texto aprovado altera dispositivos do Código Penal relativos aos crimes contra o Estado democrático de direito. Entre os pontos destacados, está o alinhamento parcial com posições já manifestadas por alguns ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que se opõem à cumulação de penas pelos crimes de golpe de Estado e abolição violenta do Estado democrático de direito quando inseridos em um mesmo contexto.
Tramitação no Senado e cálculo político
Com a aprovação na Câmara, o PL da Dosimetria segue agora para o Senado. O presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), já indicou que pretende analisar o projeto ainda neste ano, defendendo uma solução intermediária para atualizar a legislação e ajustar lacunas relacionadas aos crimes contra o Estado democrático de direito.
A decisão de pautar a matéria partiu de Motta, que atribuiu a si próprio a responsabilidade pela inclusão do projeto após reunião do colégio de líderes. Ele negou qualquer vínculo entre a votação e a pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) à Presidência da República em 2026, afirmando que exerceu apenas o poder de definir a pauta da Câmara e que não atendeu a pedidos específicos.
Para Motta, o projeto já estava “maduro” para ser votado e trata de redução de penas, não de anistia. A iniciativa individual do presidente da Câmara, contudo, incomodou parte dos líderes da base governista, que não esperavam a inclusão repentina do tema em uma agenda que, segundo eles, já vinha sendo costurada com oposição e centrão.
Relatório abandona anistia ampla e foca na dosimetria
O parecer de Paulinho, apresentado na tarde de terça-feira, se afastou completamente da versão original do projeto, protocolada por Marcelo Crivella (Republicanos-RJ), que previa anistia ampla, geral e irrestrita nos moldes desejados pela oposição para beneficiar Bolsonaro. O relator classificou essa anistia como uma pauta extremista, embora tenha considerado desproporcionais as condenações impostas pelo STF.
Em seu texto, Paulinho argumenta que a proposta pretende corrigir excessos sem eliminar a responsabilização de quem ultrapassou os limites legais. As mudanças atingem tanto os dispositivos do Código Penal que tratam de crimes contra o Estado democrático de direito quanto pontos específicos da Lei de Execução Penal.
As alterações incluem a previsão de que, quando os crimes de golpe de Estado e abolição violenta do Estado democrático de direito ocorrerem no mesmo contexto, as penas não poderão ser simplesmente somadas, devendo ser aplicadas segundo regras de concurso formal, vedando o cômputo cumulativo integral atualmente utilizado.
Regras mais brandas para execução da pena
O parecer foi estruturado em duas partes. A primeira propõe modificações na Lei de Execução Penal, ao prever que condenados por crimes contra o Estado democrático de direito possam ter direito a uma progressão de regime mais rápida, com possibilidade de avanço após o cumprimento de 1/6 da pena. Ficam de fora desse benefício os condenados que tenham empregado violência, sejam reincidentes ou tenham sido sentenciados por feminicídio e crimes hediondos.
A segunda parte trata diretamente dos delitos contra o Estado. O relatório estabelece que, em situações em que esses crimes forem cometidos em contexto de multidão, as penas poderão ser reduzidas de um terço a dois terços, desde que o condenado não tenha financiado os atos nem exercido funções de liderança. A justificativa é oferecer tratamento mais benéfico a participantes que não tiveram poder de mando nem participaram do financiamento de atos antidemocráticos.
Aval de Bolsonaro e impacto estimado na pena
Antes da votação, Sóstenes Cavalcante afirmou que teve acesso ao parecer de Paulinho com duas semanas de antecedência e levou o conteúdo ao conhecimento de Bolsonaro, que cumpre atualmente a pena de 27 anos e três meses de prisão na Superintendência da Polícia Federal. Segundo o líder do PL, o ex-presidente concordou com a estratégia de redução de penas, embora o partido siga defendendo a anistia para 2026.
De acordo com os cálculos apresentados por Sóstenes, a pena em regime fechado de Bolsonaro poderia cair para cerca de dois anos e poucos meses. Ele declarou que, com as mudanças previstas pelo PL da Dosimetria, a condenação total seria reduzida de 27 para perto de 20 anos, mas, na prática, a combinação das novas regras de execução penal e da revisão da dosimetria levaria a um cumprimento efetivo de aproximadamente dois anos e quatro meses em regime fechado.