Saúde

Refrigerantes zero podem prejudicar mais o fígado que os comuns, diz estudo

Pesquisa apresentada na Semana Europeia de Gastroenterologia liga consumo diário de bebidas açucaradas e versões diet, zero ou light a maior risco de doença hepática associada à disfunção metabólica, enquanto substituição por água reduz significativamente esse perigo

10/12/2025 às 07:09 por Redação Plox

Tanto bebidas adoçadas com açúcar quanto versões com baixo teor ou sem açúcar — como refrigerantes diet e zero — estão ligadas a um risco significativamente maior de desenvolver doença hepática esteatótica associada à disfunção metabólica (MASLD), indica um novo estudo apresentado nesta terça-feira (9) na Semana Europeia de Gastroenterologia, em Berlim.

Os pesquisadores acompanharam 123.788 participantes do UK Biobank que não tinham doença hepática no início do estudo. O consumo de bebidas foi avaliado por meio de questionários alimentares de 24 horas, repetidos ao longo do tempo. A equipe analisou a relação entre a ingestão desses produtos e o desenvolvimento de doença hepática alcoólica, acúmulo de gordura no fígado e mortalidade relacionada ao órgão.

Estudo indica que refrigerantes zero podem causar danos maiores ao fígado do que as versões tradicionais

Estudo indica que refrigerantes zero podem causar danos maiores ao fígado do que as versões tradicionais

Foto: Reprodução/Pinterest

Bebidas diet e açucaradas elevam risco de MASLD

Os resultados mostram que consumir mais de 250 g por dia de bebidas com baixo teor de açúcar ou sem açúcar (LNSSB) esteve associado a um aumento de 60% no risco de desenvolver MASLD. Já as bebidas açucaradas tradicionais (SSB) elevaram esse risco em 50%.

Ao longo de um acompanhamento médio de 10,3 anos, 1.178 participantes desenvolveram MASLD e 108 morreram por causas relacionadas ao fígado.

Embora não tenham sido encontradas associações significativas entre bebidas adoçadas com açúcar e mortalidade, o consumo de versões diet, zero ou light também foi ligado a maior risco de morte relacionada ao fígado. Ambos os tipos de bebida se associaram a níveis mais altos de gordura hepática.

A MASLD — antes chamada de doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) — é caracterizada pelo acúmulo de gordura no fígado, que pode evoluir para inflamação, dor, fadiga e perda de apetite. Hoje, é considerada a doença hepática crônica mais comum no mundo, afetando mais de 30% da população global.

Uma lata por dia já aumenta o risco, apontam pesquisadores

De acordo com a autora principal do estudo, Lihe Liu, as versões diet são frequentemente percebidas como escolhas mais saudáveis, mas os dados sugerem que essa percepção precisa ser revista.

As bebidas açucaradas com baixo teor de açúcar foram associadas a um risco maior de MASLD, mesmo em níveis moderados, como uma única lata por dia. Essas descobertas destacam a necessidade de reconsiderar o papel dessas bebidas na dieta e na saúde do fígado.

Lihe Liu

Liu descreveu possíveis mecanismos que podem explicar os achados. No caso das bebidas açucaradas, o açúcar pode causar picos rápidos de glicose e insulina, favorecer o ganho de peso e aumentar o ácido úrico — fatores relacionados ao acúmulo de gordura no fígado.

Já as bebidas diet podem interferir na microbiota intestinal, alterar a sensação de saciedade e até estimular secreção de insulina, contribuindo para o desenvolvimento de gordura hepática.

Trocar refrigerante por água reduz risco

Os autores ressaltam que limitar tanto bebidas açucaradas quanto versões com pouco ou nenhum açúcar deve integrar estratégias de prevenção não só de doenças hepáticas, mas também de condições cardiometabólicas.

Substituir qualquer uma dessas bebidas por água reduziu de forma significativa o risco de doença hepática alcoólica:

  • 12,8% de redução quando a troca foi feita no lugar das bebidas açucaradas;
  • 15,2% de redução ao substituir bebidas de baixo teor de açúcar.

Já a troca entre si — substituir bebidas diet por versões açucaradas, ou o contrário — não trouxe redução de risco.

A água se destaca como a escolha mais segura, por aliviar a sobrecarga metabólica e ajudar a prevenir o acúmulo de gordura no fígado, reforçam os pesquisadores.

Os cientistas agora planejam investigar com mais profundidade os mecanismos causais, por meio de ensaios randomizados e estudos genéticos de longo prazo, com foco especial na interação entre açúcar, adoçantes, microbiota intestinal e saúde hepática.

Compartilhar a notícia

V e j a A g o r a