Redes sociais espalham promessas milagrosas e ameaçam tratamento do diabetes no Brasil

Pacientes são alvos de fake news sobre cura da doença, o que compromete cuidados e saúde pública

Por Plox

11/04/2025 11h02 - Atualizado há 27 dias

Navegar pelas redes sociais ou aplicativos de mensagens pode parecer algo inocente, mas tem se tornado um terreno perigoso, principalmente para quem convive com o diabetes. Pacientes que enfrentam essa doença crônica são frequentemente bombardeados por conteúdos enganosos e promessas milagrosas de cura.


Imagem Foto: Reprodução


Conforme alerta Flavio Pirozzi, da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), é cada vez mais comum o surgimento de vídeos e anúncios com propostas de medicamentos ou terapias naturais que alegam eliminar a necessidade de tratamento médico. Esse tipo de conteúdo, segundo o especialista, interfere diretamente no trabalho dos profissionais de saúde, fazendo com que pacientes questionem tratamentos estabelecidos e, em alguns casos, abandonem cuidados essenciais.


Um levantamento do Instituto Locomotiva, divulgado em 2024, mostra que 90% dos brasileiros já acreditaram em informações falsas, mesmo que 62% afirmem confiar na própria capacidade de diferenciar o que é verdadeiro. E quando o tema é saúde, 12% reconhecem que a desinformação pode causar sérios danos.



Entre os alvos preferenciais dessas fake news está o diabetes, que atinge cerca de 10,5% da população brasileira, o equivalente a mais de 20 milhões de pessoas, de acordo com dados da Federação Internacional de Diabetes (IDF). O Brasil está entre os seis países com mais casos no mundo.


Flávia Maia, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), destaca que a natureza progressiva da doença contribui para a vulnerabilidade dos pacientes, que acabam buscando alternativas não confiáveis por medo da insulina ou por promessas de cura rápida.


Um exemplo de quem já foi impactado por essas falsas promessas é o caminhoneiro aposentado Gerçon de Oliveira, de 62 anos. Diabético há mais de duas décadas, ele relata ter testado diversas receitas caseiras como água de quiabo, folhas de jamelão, batata yacon e chá de carqueja, sem obter resultado. “Tomei tudo o que me indicaram, mas nada resolveu. Hoje sigo só com insulina e dieta.”



As mentiras mais comuns incluem afirmações como \"suco de quiabo cura diabetes\" ou \"chá de pau de canela elimina a doença em cinco dias\". O médico Pirozzi alerta que até mesmo profissionais com formação na área da saúde ajudam a espalhar essas informações, aproveitando-se da credibilidade da profissão. Ele relata casos de pessoas se passando por médicos para vender produtos, inclusive criticando o uso da metformina, um dos principais medicamentos indicados para diabetes tipo 2.


Outro exemplo de enfrentamento à desinformação envolve as cientistas Ana Bonassa e Laura Marise, do canal \"Nunca Vi Um Cientista\", que chegaram a ser condenadas por desmentirem um influenciador que alegava que vermes causam diabetes. A decisão foi posteriormente suspensa pelo STF, que reconheceu o embasamento científico da dupla.



O Ministério da Saúde informou que mantém o portal \"Saúde com Ciência\" (gov.br/saudecomciencia), com informações seguras e orientações sobre como denunciar conteúdos falsos. As denúncias podem ser feitas via Ouvidoria ou pela plataforma Fala.BR. Em casos envolvendo saúde, os relatos também podem ser encaminhados à Anvisa, conselhos profissionais ou Ministério Público.


Diante da enxurrada de informações, o ministério recomenda seis passos para reconhecer uma fake news: verificar a fonte, conferir a data da publicação, ler a matéria completa, desconfiar de textos exagerados, checar os dados e validar as fontes citadas.



Para especialistas, o combate às fake news é urgente. “A internet, que deveria ser uma ferramenta de esclarecimento, tem confundido ainda mais. O volume de informações disponíveis gera dúvidas e leva as pessoas a seguirem aquilo que mais se alinha com suas crenças, mesmo que erradas”, ressalta Laura Marise.


O desafio agora é fortalecer o acesso à informação confiável, sem deixar espaço para promessas vazias que comprometem a saúde e a vida de milhões de brasileiros.


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