Imprensa internacional repercute depoimento de Bolsonaro no STF
Veículos estrangeiros destacam uso político da audiência e apontam ineditismo do julgamento por tentativa de golpe
Por Plox
11/06/2025 09h12 - Atualizado há 2 dias
A recente audiência do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal, no processo em que é investigado por suposta tentativa de golpe de Estado, repercutiu intensamente na imprensa internacional. A cobertura da mídia estrangeira destacou tanto o comportamento do ex-presidente quanto o ineditismo do julgamento.

No Reino Unido, o jornal The Guardian chamou atenção para o fato de Bolsonaro ter utilizado a audiência, transmitida ao vivo, como uma forma de defender sua gestão entre 2019 e 2023. Durante o depoimento, ele também aproveitou para atacar o atual governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A publicação pontuou que Bolsonaro negou qualquer envolvimento direto em planos golpistas, embora tenha confirmado sua presença em reuniões que trataram de \"alternativas\" para se manter no cargo após sua derrota nas eleições de 2022.
Entre as opções discutidas, conforme reportado pelo Guardian, estava a possibilidade de instaurar um estado de sítio, ainda que o próprio ex-presidente tenha alegado não haver ambiente favorável para tal ação. O jornal também relatou o aguardado momento do encontro entre Bolsonaro e o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF, relembrando que o ex-presidente já o havia chamado de \"idiota\" e \"canalha\" em ocasiões anteriores. No entanto, durante o depoimento, Bolsonaro pediu desculpas a Moraes e a outros dois magistrados por ter afirmado, anteriormente, que eles teriam recebido milhões para fraudar as eleições.
\"O líder da direita radical usou a transmissão ao vivo para transformar a audiência numa plataforma política e defender seu governo\", destacou o Guardian
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Já o Financial Times descreveu o ex-presidente como um “nacionalista cristão” que mantém ligação próxima com Donald Trump, ressaltando que Bolsonaro pode ser condenado a penas severas, caso as acusações se confirmem. A publicação britânica classificou as alegações sobre o plano de golpe como um dos momentos mais críticos vividos pela democracia brasileira recente. O veículo também observou que Alexandre de Moraes, responsável pelo interrogatório, era um dos supostos alvos de planos de atentado.
O FT considerou que Bolsonaro manteve um tom “respeitoso”, embora tenha feito comentários “confusos” ao defender sua atuação e reiterar sua oposição ao sistema eletrônico de votação no Brasil.
A BBC News, por sua vez, destacou a fala de Bolsonaro classificando um golpe de Estado como algo “abominável”. A reportagem pontuou que, apesar de ter perdido as eleições em outubro de 2022 para Lula, o ex-presidente nunca admitiu publicamente a derrota. Segundo o veículo britânico, seus apoiadores permaneceram acampados por semanas nas imediações de quartéis, com o objetivo de impedir a posse do novo presidente.
A rede também relembrou o impacto dos atos de 8 de janeiro e a pressão popular sobre as instituições democráticas.
Na cobertura feita pela Al-Jazeera, o foco foi o relatório de 900 páginas produzido pela Polícia Federal, que embasou as acusações. A emissora destacou que Bolsonaro, embora estivesse nos Estados Unidos no momento da invasão às sedes dos Três Poderes, foi apontado pelos promotores como um incentivador dos atos violentos, chegando a chamar a ação de “última esperança” contra a vitória de Lula.
A Al-Jazeera frisou que essa é a primeira vez desde o fim da ditadura militar, em 1985, que um ex-presidente brasileiro responde por crimes ligados à tentativa de golpe. O veículo também recordou a postura de Bolsonaro durante a pandemia de covid-19, criticando sua condução da crise sanitária e sua política de desinformação, que contribuiu para um dos maiores índices de mortalidade do mundo.
Esse panorama internacional reflete o peso e a gravidade do processo que envolve Bolsonaro, ampliando a repercussão e o olhar estrangeiro sobre os desdobramentos políticos e judiciais no Brasil.