Mineradora é embargada após descoberta de cavernas omitidas em MG

A descoberta de cinco novas cavernas na fazenda Escrivânia, em Prudente de Morais, levou ao embargo parcial das atividades da mineradora Sandra Mineração, que atua na extração de calcário na região Central de Minas Gerais.

Foto:Alex Arreguy / Divulgação

Essas cavidades não constavam nos estudos ambientais apresentados durante o processo de licenciamento e foram identificadas durante uma fiscalização da Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam), que foi realizada após requerimento aprovado pela Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

O relatório da vistoria apontou que algumas das cavernas abrigam populações de morcegos e estão acompanhadas por sumidouros ativos. As estruturas naturais foram descritas como “facilmente identificáveis” e deveriam ter sido incluídas na documentação ambiental.

A mineradora, em nota, alegou que as cavernas não eram conhecidas à época da elaboração dos estudos e afirmou que elas estão localizadas fora da Área Diretamente Afetada (ADA) pela mineração. Ainda segundo a empresa, o maciço onde estão as cavidades não sofre, nem sofrerá, intervenção direta.

Apesar disso, a fiscalização apontou que uma estrada usada para escoamento do calcário passa a apenas 20 metros de algumas das cavernas recém-descobertas, o que contraria a justificativa de ausência de impacto direto. O documento da Feam também revelou que o ruído dos caminhões já é perceptível dentro das cavernas.

O embargo determinado pela Feam abrange um raio de 250 metros em torno das cavidades e foi acompanhada de multa de aproximadamente R$ 122 mil. A fundação afirmou que o bloqueio das atividades permanecerá enquanto a situação ambiental não for regularizada e reforçou seu compromisso com a proteção do patrimônio espeleológico.

O professor de geografia Eduardo Teixeira destacou a importância científica do Maciço de Escrivânia, que já foi estudado por Peter Lund, considerado o pai da paleontologia brasileira. Segundo ele, a região possui relevância arqueológica e paleontológica reconhecida, com cerca de 40% das 12.000 peças fósseis coletadas por Lund oriundas da Escrivânia.

Moradores do condomínio Portal do Horizonte, vizinho ao empreendimento, também demonstram preocupação. O engenheiro Philippe Weyland relatou incômodos como barulho, poeira e risco de comprometimento estrutural das residências devido às explosões na mina Limeira, que opera no local há quase três décadas.

A Sandra Mineração afirmou estar cumprindo todas as determinações legais e providenciando novos estudos espeleológicos conforme exigido. A empresa ressaltou que o local das cavernas está protegido e distante da área de lavra.

A situação segue em discussão administrativa entre a mineradora e a Feam, que reforça a necessidade de rigor nos estudos ambientais para garantir a preservação dos ecossistemas subterrâneos da região.