Brasil tem mais de 30 internações ao dia por tentativa de suicídio
Os dados foram divulgados nesta quarta-feira (11) pela Associação Brasileira de Medicina de Emergência (Abramede).
Por Plox
11/09/2024 13h55 - Atualizado há 17 dias
O número de internações relacionadas a lesões autoprovocadas no Brasil aumentou significativamente em 2023, alcançando 11.502 casos registrados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o que representa uma média de 31 internações por dia. Em comparação com 2014, quando foram contabilizados 9.173 casos, o aumento é superior a 25%. Os dados foram divulgados nesta quarta-feira (11) pela Associação Brasileira de Medicina de Emergência (Abramede).
Cenário regional
A análise dos dados regionais mostra variações significativas entre os estados. Alagoas registrou o maior aumento percentual de internações por lesões autoprovocadas entre 2022 e 2023, com um crescimento alarmante de 89%, passando de 18 para 34 casos. Paraíba e Rio de Janeiro também apresentaram aumentos expressivos, de 71% e 43%, respectivamente. Por outro lado, estados como São Paulo e Minas Gerais, apesar dos altos números absolutos de 3.872 e 1.702 internações, respectivamente, tiveram aumentos percentuais mais modestos, de 5% e 2%.
Em contraste, alguns estados conseguiram reduzir as internações por tentativas de suicídio e autolesões. O Amapá lidera com uma queda de 48%, seguido pelo Tocantins (27%) e Acre (26%). A Região Sul, porém, enfrenta uma tendência preocupante, com aumentos significativos: Santa Catarina (22%), Paraná (16%) e Rio Grande do Sul (33%).
Perfil dos pacientes
O perfil dos pacientes internados por lesões autoprovocadas destaca diferenças entre os sexos e faixas etárias. Entre 2014 e 2023, as internações de mulheres aumentaram de 3.390 para 5.854, enquanto o número de internações de homens teve uma leve queda, de 5.783 para 5.648. Jovens adultos e adolescentes foram os mais afetados em 2023, especialmente na faixa etária de 20 a 29 anos, com 2.954 internações, seguidos pelo grupo de 15 a 19 anos, que contabilizou 1.310 casos. O aumento de internações entre crianças e adolescentes de 10 a 14 anos também é preocupante, com 601 registros em 2023, quase o dobro dos 315 casos observados em 2011.
Impacto na saúde pública e necessidade de capacitação
A Abramede enfatiza que médicos de emergência geralmente são os primeiros a atender pacientes em situações de tentativas de suicídio e autolesões, destacando a necessidade de capacitação desses profissionais para lidar com esses casos de forma rápida, eficiente e humanizada. A associação alerta para possíveis subnotificações e inconsistências nos registros, o que pode significar que os números reais sejam ainda maiores.
Além do atendimento técnico, a abordagem deve incluir a identificação de sinais de vulnerabilidade emocional para fornecer suporte integrado e reduzir a ocorrência de novos episódios. "Uma resposta rápida e humanizada pode fazer a diferença no prognóstico desses pacientes", reforça a Abramede.
Setembro Amarelo e o combate ao estigma
A campanha Setembro Amarelo, uma das principais iniciativas no Brasil para combater o estigma em torno da saúde mental, tem como lema deste ano "Se Precisar, Peça Ajuda". O suicídio é considerado um problema de saúde pública no país, com cerca de 14 mil casos registrados anualmente, o que representa uma média de 38 mortes por dia.
O psicólogo e especialista em trauma e urgências subjetivas Héder Bello destaca que, além dos transtornos mentais, outros fatores como ser LGBT, enfrentar precariedade financeira ou social, ser refugiado político ou sofrer abuso e violência também contribuem para a vulnerabilidade ao suicídio. Ele defende a importância de políticas públicas que abordem o tema abertamente e sem tabus, além de instrumentos educativos e de saúde para lidar com essas situações de estresse e vulnerabilidade.
Cenário global e metas da OMS
A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que, anualmente, mais de 700 mil pessoas no mundo tiram a própria vida, sendo o suicídio a quarta principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. A OMS reforça a necessidade de reduzir o estigma e promover o diálogo aberto sobre o tema, buscando romper com a cultura do silêncio e promovendo apoio e compreensão.
Reduzir a taxa global de suicídios em pelo menos um terço até 2030 é uma das metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Segundo a OMS, os desafios que levam ao suicídio são complexos e envolvem fatores sociais, econômicos, culturais e psicológicos, incluindo a negação de direitos humanos básicos e o acesso a recursos essenciais.