Brasileiros temem mais a fome do que a violência, revela estudo
Pesquisa mostra que 63% da população vê a fome como maior preocupação, enquanto o Brasil desperdiça toneladas de alimentos todos os anos.
Por Plox
11/09/2024 09h54 - Atualizado há 3 meses
A fome é uma ameaça crescente no Brasil, afetando 8,5 milhões de pessoas, segundo estudo da MindMiners intitulado "A comida que jogamos fora". De acordo com a pesquisa, 63% dos entrevistados colocam a insegurança alimentar como sua maior preocupação, superando até mesmo o medo da violência. Esses números revelam o impacto social desse problema, mesmo em um país conhecido por sua vasta produção agrícola.
Desperdício de alimentos em larga escala
Em contraste com a fome que assola milhões, o Brasil desperdiça anualmente 55,4 milhões de toneladas de alimentos, segundo dados do Pacto contra a Fome. Isso coloca o país entre os dez que mais desperdiçam alimentos no mundo, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU). O problema atinge 30% da produção nacional de alimentos, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O desperdício se espalha por todas as etapas da cadeia produtiva, conforme aponta a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Durante a produção, fatores como colheitas inadequadas, pragas e desastres naturais aumentam as perdas. A especialista em sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (FGV), Jéssica Chryssafidis, comenta que “o desperdício está enraizado em toda a cadeia alimentar”, com desafios logísticos como o transporte de alimentos que acentuam o problema no Brasil.
Desperdício também no consumo
O problema continua mesmo quando os alimentos chegam ao consumidor final. A cultura de servir porções grandes e a exigência estética dos supermercados contribuem para o descarte de produtos perfeitamente comestíveis. Daniel Balaban, do Programa Mundial de Alimentos da ONU no Brasil, destaca que "a cenoura deformada, que tem o mesmo sabor, é jogada fora" por não atender ao padrão visual exigido.
Soluções locais contra o desperdício
Projetos locais têm buscado soluções para esse cenário. A CeasaMinas, por exemplo, desenvolve o Prodal, um banco de alimentos que recupera frutas, verduras e legumes rejeitados por questões estéticas. Esses alimentos são selecionados, higienizados e distribuídos a instituições que atendem pessoas em situação de vulnerabilidade econômica. O projeto já doa 27 toneladas de alimentos mensalmente, beneficiando mais de 20 mil pessoas.
Wilson Guide, gestor da Ceasa, afirma que a iniciativa visa “reduzir a perda de alimentos e o custo de operação”, além de atender à população carente.
Iniciativas comunitárias em Belo Horizonte
A Prefeitura de Belo Horizonte também tem investido em cozinhas comunitárias como estratégia para combater a fome. Desde abril do ano passado, o projeto-piloto no aglomerado Cabana do Pai Tomás distribui 350 refeições diárias. Agora, o programa será expandido, com um edital aberto para que Organizações da Sociedade Civil (OSCs) possam participar da iniciativa. O objetivo é ter uma cozinha comunitária em cada uma das nove regiões da cidade.
Joyce Andrade Batista, da Secretaria Municipal de Assistência Social, explica que o foco vai além de fornecer refeições: “O objetivo do espaço não é somente entregar refeição, mas desenvolver atividades de educação, com orientações nutricionais”.
Fomento à agricultura familiar e urbana
O governo federal também está apoiando a produção de alimentos com o lançamento do Plano Safra em Minas Gerais, que disponibilizará R$ 7,2 bilhões em crédito para pequenos produtores. O ministro Paulo Teixeira destaca a importância da mecanização do campo para melhorar a produtividade.
As hortas comunitárias também ganham força como solução local. Atualmente, Belo Horizonte conta com 57 hortas urbanas, distribuídas em mais de 150 m² de área cultivada. O Programa Nacional de Agricultura Urbana, criado pelo governo federal, busca expandir essa iniciativa e promover a justiça alimentar, conforme explica Jéssica Chryssafidis: “Quem tem fome não tem energia para plantar. Ao contrário, como política pública, a produção agrícola é direcionada para os mais vulneráveis”.