Pacientes contraem HIV após transplantes no Rio de Janeiro
Anvisa e Ministério Público apuram contaminação de seis pacientes que receberam órgãos de doadores com falso negativo para HIV, em um caso inédito no Brasil
Por Plox
11/10/2024 09h54 - Atualizado há 9 meses
Seis pacientes transplantados no Rio de Janeiro foram contaminados com HIV após receberem órgãos de um mesmo doador. A descoberta ocorreu após exames realizados pelo laboratório PCS, de Nova Iguaçu, apresentarem falsos negativos para o vírus. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Ministério Público abriram uma investigação para apurar as circunstâncias do caso. A informação foi revelada com exclusividade pelo diretor-geral de conteúdo do Grupo Bandeirantes de Comunicação, Rodolfo Schneider, da BandNews FM.

Origem da contaminação e emergência na saúde
Os exames dos doadores contaminados foram realizados pelo PCS laboratórios, empresa contratada emergencialmente pela Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro em dezembro de 2023. A contratação ocorreu devido à sobrecarga do Hemorio, um dos principais centros de exames e testes sanguíneos do estado. Desde então, o laboratório realizou mais de 500 transplantes até a suspensão do contrato em setembro de 2024. A investigação levantou sérias suspeitas sobre a qualidade e autenticidade dos testes realizados pelo laboratório.
Pacientes identificados após transplantes
O primeiro caso foi descoberto no dia 10 de setembro, quando um paciente transplantado apresentou sintomas neurológicos e foi diagnosticado com HIV, apesar de não ter o vírus antes da cirurgia. A partir deste caso, as autoridades de saúde analisaram amostras de órgãos do mesmo doador e confirmaram a contaminação em outros dois pacientes. Mais recentemente, outro receptor de órgão teve teste positivo para HIV, elevando o número total de casos confirmados para seis. Todos esses pacientes estão passando por novos exames.
Anvisa investiga laboratório e procedimentos de testes
Nesta quinta-feira (10), a Anvisa realizou uma inspeção no laboratório PCS e constatou a ausência de kits para exames de sangue, além da falta de documentos que comprovassem a aquisição dos insumos necessários. Isso levou as autoridades a suspeitarem que os testes podem não ter sido realizados e que os resultados negativos foram falsificados. A ausência de recomendações técnicas da Anvisa no processo de licitação do laboratório também chamou a atenção, uma vez que essas orientações são obrigatórias para a realização de transplantes de órgãos.
Impacto nacional e reunião de especialistas
Esse incidente é o primeiro de seu tipo no Brasil, que realiza transplantes de órgãos desde 1964, e gerou uma mobilização nacional. Nesta quinta-feira, as centrais de transplantes de diversos estados brasileiros se reuniram para discutir novas medidas de segurança e prevenção, visando evitar a repetição de eventos semelhantes no futuro. A Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro também está conduzindo uma nova rodada de exames em todos os pacientes que tiveram seus testes processados pelo PCS laboratórios, e espera concluir essa etapa da investigação na próxima semana.