Empresário morto em Guarulhos denunciou policiais civis e envolvimento com o PCC
Delator de esquemas do PCC, Antônio Vinicius Lopes Gritzbach foi executado a tiros no Aeroporto Internacional de São Paulo após ter revelado crimes da facção e acusações de corrupção policial.
Por Plox
11/11/2024 07h45 - Atualizado há cerca de 2 meses
Antônio Vinicius Lopes Gritzbach, empresário do setor imobiliário, foi assassinado na última sexta-feira (8) no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. Conhecido por seu envolvimento em negócios com membros do Primeiro Comando da Capital (PCC), ele se tornou delator de esquemas criminosos envolvendo a facção e também de casos de corrupção policial. Em depoimentos ao Ministério Público de São Paulo nos últimos meses, ele detalhou seu envolvimento com o PCC e a participação de policiais civis em atividades ilícitas.
Gritzbach foi envolvido com a facção ao realizar negócios com Anselmo Becheli Santa Fausta, o “Cara Preta”, um dos membros do PCC assassinado em 2021. Uma denúncia anônima identificou Antônio Vinícius como suposto mandante do crime, o que levou à sua prisão no início de 2022. Em uma audiência com o juiz, ele negou ter ordenado a morte de Anselmo, alegando ter se encontrado com ele um dia antes de sua execução. Durante seu depoimento, Antônio Vinícius também revelou que foi sequestrado e ameaçado de morte por membros do PCC, descrevendo um episódio em que um dos membros colocou uma arma em sua cabeça e o ameaçou: “Se você errar a senha, eu sei que você quer apagar o celular, vou te matar aqui mesmo. Você não vai pegar mais nesse celular só vai se despedir de sua família”.
Acusações de corrupção contra policiais civis
Oito dias antes de ser executado, Antônio Vinícius denunciou à Corregedoria da Polícia Civil que havia sido vítima de roubo cometido por investigadores. Ele relatou que, em sua primeira prisão, uma bolsa com R$ 20 mil e uma caixa com uma coleção de relógios luxuosos foram levadas de sua casa. Embora a caixa tenha sido devolvida, faltavam cinco relógios, e ele afirmou ter reconhecido um deles em fotos nas redes sociais de um dos policiais. Segundo Antônio Vinícius, essas imagens foram removidas das redes sociais após a denúncia. Lincoln Gakiya, responsável pela apuração do caso, declarou que “nós estamos proibidos de revelar o teor, inclusive esse depoimento que ele deu na Corregedoria, faz parte do acordo de delação premiada. E isso foi muito recentemente, ainda está em apuração por parte da Corregedoria”.
Acordo de delação e novas investigações
Após ser solto, Vinícius foi novamente investigado por lavagem de dinheiro em nome do PCC. No fim de 2023, ele firmou um acordo de delação premiada com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), do Ministério Público de São Paulo. O primeiro advogado do empresário, Ivelson, se retirou do caso devido à discordância com a delação, assumindo então a defesa o advogado Aristides Zacarelli.
Execução no aeroporto e detalhes sobre segurança
No momento em que foi assassinado, Vinícius voltava de uma viagem a Maceió, onde teria recebido joias avaliadas em R$ 1 milhão como pagamento de uma dívida. Ao chegar ao aeroporto, ele estava acompanhado por sua namorada e seria recepcionado pelo filho, que, por sua vez, estava com quatro seguranças – todos policiais militares. Segundo Guilherme Flauzino, advogado dos policiais de segurança, os agentes não têm envolvimento com a execução do empresário e “estavam apenas trabalhando, fazendo seu bico. Eles cuidavam do filho do Vinícius como se fosse filho deles”.
A Polícia Civil informou que os policiais militares que estavam na segurança foram temporariamente afastados de suas funções e foram interrogados. Armas encontradas em mochilas nas proximidades do aeroporto foram apreendidas para perícia, pois podem ter sido utilizadas no crime. As investigações sobre o assassinato seguem em andamento.