Copom deve elevar a Selic e tensão entre governo e mercado aumenta
Projeção aponta alta de 0,75 ponto percentual, em divergência com o posicionamento do governo federal
Por Plox
11/12/2024 07h11 - Atualizado há cerca de 12 horas
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se prepara para anunciar, nesta quarta-feira (11), um novo aumento na taxa básica de juros (Selic). A previsão dos analistas de mercado, conforme o boletim Focus, é de um reajuste de 0,75 ponto percentual, levando a taxa de 11,25% para 12% ao ano. Esta será a última decisão sob o comando de Roberto Campos Neto à frente da instituição.
O possível aumento ocorre em meio a um cenário de forte tensão entre o governo federal e o mercado financeiro. Enquanto o governo Lula destaca a recuperação econômica do país, com crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), aumento da massa salarial e queda no desemprego e na pobreza, o mercado demonstra insatisfação, especialmente com o aumento de gastos públicos. Paralelamente, o dólar tem atingido novos recordes, chegando a R$ 6,08 na última segunda-feira (9).
Divergência entre governo e mercado
A insatisfação do mercado foi intensificada após o anúncio de um pacote de medidas fiscais apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. As propostas incluem o corte de R$ 71,9 bilhões em despesas até 2026 e de R$ 327 bilhões até 2030. O plano prevê ajustes em políticas de valorização do salário mínimo e em alguns programas sociais, além da isenção do Imposto de Renda (IR) para quem recebe até R$ 5 mil mensais. Para compensar a renúncia fiscal, o governo pretende tributar lucros e dividendos superiores a R$ 50 mil por mês, medida que ainda precisa da aprovação do Congresso Nacional.
Para a economista e professora da Fundação Getulio Vargas (FGV), Carla Beni, o Brasil vive uma situação de "descasamento de realidade". Segundo ela, o país apresenta bons resultados macroeconômicos, com inflação controlada e sem risco de surtos inflacionários, mas o mercado permanece resistente às medidas do governo. "O mercado não está preocupado com as pessoas na fila do osso, passando fome. Ele quer saber como será feita a correção do salário mínimo do trabalhador e, se necessário, quer um corte também", afirmou a economista.
Beni destacou ainda que parte do aumento de gastos se deve a obrigações herdadas do governo anterior, como o pagamento de R$ 94 bilhões em precatórios. Ela avalia que o mercado tem uma preocupação excessiva com o rigor fiscal, influenciada por uma visão ideológica contrária ao governo Lula.
Impactos da dívida pública e perspectiva de novos aumentos na Selic
Na visão de Diego Faust, sócio da Manchester Investimentos, o aumento da relação entre a dívida pública e o PIB é um ponto de preocupação. Até outubro, a dívida correspondia a 78,5% do PIB, e a Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado Federal estima que o índice alcance 80% até o fim do ano. Para Faust, parte do crescimento do PIB é resultado de estímulos promovidos pelo próprio governo, o que pode gerar pressão inflacionária no longo prazo.
O sócio da Manchester também criticou o anúncio das medidas fiscais e a isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil, argumentando que faltou clareza na comunicação das ações. "O Executivo teve uma oportunidade imensa de dar uma sinalização clara do que seria feito, e essa sinalização não veio de maneira uníssona, veio de maneira atabalhoada", afirmou Faust.
O mercado espera que o Banco Central mantenha uma postura técnica e independente em sua decisão sobre a Selic. Caso o aumento de 0,75 ou 1 ponto percentual seja aprovado por consenso no colegiado, incluindo os novos diretores indicados pelo governo Lula, isso poderá indicar a continuidade de uma atuação técnica no Banco Central, segundo Faust.
No entanto, Carla Beni alerta para o impacto financeiro de uma nova alta nos juros. Segundo a professora da FGV, uma elevação de 1 ponto percentual na Selic pode gerar um custo adicional de R$ 50 bilhões ao Tesouro Nacional. "Não existe corte financeiro e de orçamento que se consiga fazer para tirar esses R$ 50 bilhões", disse. Ela criticou a atuação do Banco Central, afirmando que a instituição precisa "escutar menos o mercado financeiro" e considerar mais a realidade econômica e social do país.
A partir de janeiro, o Banco Central te