Economia

Senado do México aprova aumento de tarifas de importação contra Brasil, China e outros países

Medida proposta por Claudia Sheinbaum, com foco em produtos chineses e alíquotas de até 50%, busca fortalecer a indústria nacional, mas gera críticas por possível alta da inflação e tensão comercial com a China

11/12/2025 às 16:37 por Redação Plox

O Senado do México aprovou nesta quarta-feira (10) o aumento das tarifas de importação aplicadas ao Brasil, à China e a outros nove países com os quais o país não mantém acordo comercial. A medida foi votada em meio à crescente pressão comercial dos Estados Unidos e recebeu 76 votos favoráveis, 5 contrários e 35 abstenções, em uma sessão que avançou até a noite.

Claudia Sheinbaum

Claudia Sheinbaum

Foto: Reprodução / X


Na véspera, a Câmara dos Deputados já havia aprovado a proposta apresentada pela presidente Claudia Sheinbaum. Para entrar em vigor em 1º de janeiro de 2026, o texto ainda precisa ser publicado.

Países e setores atingidos pelas novas tarifas

Além de Brasil e China, as tarifas mais altas vão atingir produtos da África do Sul, Coreia do Sul, Emirados Árabes Unidos, Índia, Indonésia, Nicarágua, Tailândia, Taiwan e Vietnã. Ao todo, as mudanças alcançarão 1.463 classificações tarifárias em 17 setores, como automotivo, têxtil, vestuário, siderúrgico, plásticos, eletrodomésticos, móveis e calçados, entre outros, com foco principal em produtos chineses.

Desse universo, 316 classificações atualmente não pagam qualquer imposto de importação. A proposta original previa tarifas de até 50%, mas a maioria foi reduzida para cerca de 20% ou 35%, com a alíquota máxima mantida apenas em alguns casos, como o de automóveis.

A cobrança de 50% sobre veículos tem como alvo sobretudo o mercado chinês, que respondeu por 20% das vendas de carros no México em novembro, segundo a Associação Mexicana de Distribuidores Automotivos. O país latino-americano foi o maior comprador mundial de carros fabricados na China no primeiro semestre do ano, de acordo com a consultoria Automobility, de Xangai.

Reações internas e acusação de pressão dos EUA

O Ministério do Comércio da China afirmou que a medida causará “prejuízos substanciais” e lamentou a decisão unilateral do governo mexicano.

Entre os senadores que se abstiveram, o argumento foi de que o projeto teria sido elaborado às pressas, sem a devida análise de seu impacto sobre a inflação, e como resposta direta à pressão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Parlamentares do partido governista, por outro lado, defenderam a reforma, alegando que ela pretende fortalecer o setor industrial mexicano, incentivar a criação de empregos e ampliar as cadeias de suprimentos internas.

A proposta tem como único objetivo fortalecer a economia nacional. senador Juan Carlos Loera

Segundo a emissora N+, os produtos atingidos somam US$ 52 bilhões em importações mexicanas, o que equivale a 8,6% do total. A expectativa do governo é preservar 320 mil empregos no país com a medida. O Ministério das Finanças do México calcula uma arrecadação adicional de US$ 2,5 bilhões no próximo ano com as novas tarifas.

Tarifas em meio à renegociação do T-MEC

Sheinbaum apresentou o projeto em setembro, em meio ao aumento da pressão comercial exercida por Trump e às acusações de que o México serviria de porta de entrada para produtos chineses nos Estados Unidos.

O país, ao lado do Canadá, se prepara para renegociar com Washington a renovação do Tratado de Livre Comércio da América do Norte (T-MEC), em um contexto de novas exigências da Casa Branca. Ao mesmo tempo, Trump tem reiterado ameaças de uso de força militar contra cartéis de drogas no México — uma posição que Sheinbaum classificou como inaceitável, embora o tom das críticas tenha sido atenuado à medida que o governo mexicano ampliou a cooperação em segurança, imigração e comércio.

O bloco formado por México, Estados Unidos e Canadá reúne 500 milhões de pessoas e representa cerca de 30% do PIB global, garantindo ao México acesso privilegiado ao mercado norte-americano. Quase 90% das exportações mexicanas para os EUA estão hoje isentas de tarifas, um diferencial competitivo que o governo de Sheinbaum busca preservar.

Nesse cenário, críticos questionam se o aumento das tarifas reflete uma escolha autônoma do México ou se é uma resposta às pressões de Washington.

México nega submissão e fala em fortalecimento interno

Sheinbaum rebateu as críticas, afirmando que o pacote de tarifas integra o chamado Plano México, iniciativa voltada a fortalecer o mercado interno, reduzir a dependência de importações de terceiros países e ampliar o conteúdo nacional na cadeia produtiva.

China critica “unilateralismo” e vê prejuízo

Após a aprovação do projeto, o governo chinês voltou a se manifestar, dizendo que o aumento das tarifas “prejudicará substancialmente” tanto a China quanto outros parceiros comerciais do México. O Ministério do Comércio da China informou ter solicitado às autoridades mexicanas que corrijam o que classificou como práticas “errôneas de unilateralismo e protecionismo” o mais rapidamente possível.

O ministério acrescentou que segue em andamento uma investigação sobre barreiras comerciais relacionadas ao México, iniciada em setembro. A China é hoje o segundo maior exportador para o mercado mexicano, atrás apenas dos Estados Unidos: no ano passado, vendeu US$ 130 bilhões em mercadorias ao país, enquanto os EUA exportaram US$ 334 bilhões.

A presidente mexicana enfatizou que a intenção não é abrir um confronto com Pequim. Segundo ela, o objetivo dos ajustes na legislação é reforçar a economia nacional, mantendo relações respeitosas com a China.

Preocupações com inflação e cadeia de suprimentos

Diversos setores e indústrias manifestaram oposição à iniciativa. Representantes empresariais alertam para o risco de pressão adicional sobre os preços e para o desafio de montar, em pouco tempo, uma cadeia de suprimentos totalmente mexicana em setores hoje fortemente dependentes de insumos estrangeiros.

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