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Economia
10 milhões de brasileiros trabalham, recebem Bolsa Família e continuam na pobreza
Mesmo com empregos formais, muitos não conseguem deixar a situação de vulnerabilidade e dependem do benefício para sobreviver.
13/01/2025 às 01:12por Redação Plox
13/01/2025 às 01:12
— por Redação Plox
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Ingrid Evangelista de Lima, de 32 anos, enfrentou um período crítico após ser demitida de um restaurante por estar grávida. Sem emprego, o Bolsa Família tornou-se essencial para sustentar sua filha mais velha e o bebê que esperava. Quando sua filha mais nova completou sete meses, Ingrid ingressou no programa Frente de Trabalho e passou a atuar como auxiliar de limpeza em um Centro de Referência de Assistência Social (Cras).
Embora seu salário mínimo cubra despesas básicas como aluguel, luz e internet, o Bolsa Família continua fundamental para custos com medicamentos e alimentação. "O benefício era a garantia de comprar fraldas para minha filha. Agora, com meu trabalho, sonho em prestar concurso", conta Ingrid.
Foto: Lyon Santos/MDS
Trabalho não garante saída da pobreza Dados de novembro de 2024 do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, compilados pela consultoria Kairós Desenvolvimento Social, revelam que 10,06 milhões de brasileiros entre 16 e 59 anos trabalham e recebem o Bolsa Família, mas permanecem em situação de pobreza ou extrema pobreza.
Desse grupo, 1,19 milhão possuem emprego formal, incluindo trabalhadores domésticos com carteira assinada, aprendizes, estagiários, militares e servidores públicos. Outros 6,86 milhões atuam por conta própria, como autônomos ou em bicos, enquanto cerca de 2 milhões estão em ocupações temporárias no campo ou empregos informais.
Trabalho rural: desafios e exploração Um segmento significativo é o de trabalhadores rurais temporários: 1,77 milhão de pessoas vivem em extrema pobreza ou pobreza e dependem do Bolsa Família. Cleusa Assis, 39 anos, trabalhadora rural em Pernambuco, descreve as dificuldades enfrentadas: "É uma vida de incertezas. Durante a safra da cana, conseguimos algo, mas depois temos de nos virar com o que aparecer. Os salários são sempre baixos".
Cleusa, beneficiária do programa desde 2015, ressalta a importância do auxílio: "É pouco, mas nos ajuda até que eu consiga uma ocupação mais segura".
A vulnerabilidade entre trabalhadores formais Mesmo entre aqueles com carteira assinada, 3,1 milhões não conseguem tirar suas famílias da vulnerabilidade social. Desses, 1,91 milhão possuem empregos formais e recebem remuneração, mas não conseguem superar a pobreza.
Segundo Elvis Cesar Bonassa, diretor da Kairós, o problema está na incapacidade do salário formal de garantir condições básicas de vida. "O que as empresas não pagam como salário, o governo transfere na forma de auxílio. A elevação do salário mínimo é indispensável para criar uma verdadeira porta de saída dos benefícios assistenciais", afirma.
Regras e situações de vulnerabilidade O Bolsa Família atende famílias em extrema pobreza, com renda mensal por pessoa de até R$ 109, e em situação de pobreza, com rendimentos entre R$ 109 e R$ 218. Para inscritos que conseguem emprego, há uma "regra de proteção": se a renda per capita continuar abaixo de meio salário mínimo (R$ 706, em novembro de 2024), a família mantém metade do benefício por até dois anos.
Exemplo de superação Maria Nazareth Garcia, 65 anos, encontrou sua porta de saída. Auxiliar de cozinha em um restaurante popular de Guarulhos, começou a receber o benefício durante a pandemia em 2020, quando enfrentava dificuldades financeiras. "Fez muita diferença. Agora, que não preciso mais, quero continuar trabalhando", diz Maria, que trabalha em uma unidade que serve mais de 600 refeições por dia.
Caminhos para uma saída sustentável Especialistas sugerem que a vulnerabilidade pode ser mitigada com estratégias como o empreendedorismo comunitário e o fortalecimento de programas de aprendizagem para os mais vulneráveis. Para Bonassa, "não existe uma única porta de saída do programa, mas sim um conjunto de ações que precisam ser implementadas para gerar renda e segurança para essas famílias".