Ciência ainda busca respostas para a pré-eclâmpsia, doença que levou Lexa a parto prematuro e à perda da filha
A pré-eclâmpsia afeta milhares de gestantes no mundo e causa mais de 70 mil mortes maternas anualmente, mas suas origens ainda são um mistério para a ciência.
Por Plox
12/02/2025 09h16 - Atualizado há 4 meses
A cantora Lexa emocionou seus fãs ao compartilhar a perda de sua filha recém-nascida, Sofia, na segunda-feira (10/2). A bebê nasceu prematuramente em 2 de fevereiro e faleceu três dias depois devido a complicações causadas pela pré-eclâmpsia e pela síndrome de Hellp, uma de suas variações mais graves.

"Vivi os dias mais difíceis da minha vida. Eu senti cada chutinho, eu conversei com a barriga, eu idealizei e sonhei tantas coisas lindas para a gente… foram 25 semanas e quatro dias de uma gestação muuuito desejada", desabafou a cantora em suas redes sociais.
A doença, caracterizada pelo aumento perigoso da pressão arterial durante a gravidez, pode levar a complicações fatais tanto para a mãe quanto para o bebê. O caso de Lexa trouxe à tona um problema de saúde pública que, apesar dos avanços médicos, ainda desafia pesquisadores no mundo todo.
Os riscos da pré-eclâmpsia e suas consequências fatais
A pré-eclâmpsia é responsável por cerca de 70 mil mortes maternas e 500 mil mortes fetais anualmente. A condição pode surgir sem aviso prévio e, em alguns casos, até mesmo semanas após o parto.
A atleta olímpica Allyson Felix também enfrentou a doença em sua gravidez. Sem qualquer sintoma preocupante além de um leve inchaço nos pés, a velocista descobriu a pré-eclâmpsia grave apenas em um exame de rotina na 32ª semana de gestação. No dia seguinte, precisou passar por uma cesariana de emergência. Sua filha, Camryn, nasceu dois meses antes do previsto e passou o primeiro mês na UTI neonatal.
Casos fatais, como o da corredora americana Tori Bowie, ex-campeã mundial dos 100 metros rasos, mostram como a doença pode ser devastadora. Bowie faleceu no parto em abril de 2023, aos 32 anos, por complicações relacionadas à pré-eclâmpsia.
Fatores de risco e desigualdades raciais
Pesquisas apontam que mulheres negras têm até 60% mais chances de desenvolver pré-eclâmpsia em comparação com outras etnias. Essa estatística alarmante levanta questões sobre desigualdades na saúde materna.
"Há um racismo estrutural, onde certos pacientes e comunidades não têm o mesmo acesso a intervenções precoces e a exames de detecção, principalmente por causa do tipo de assistência médica que recebem", explica Garima Sharma, especialista em saúde cardiovascular da mulher.
Além da questão racial, outros fatores de risco incluem idade superior a 40 anos, histórico de doenças autoimunes e obesidade. A inflamação excessiva no útero também pode prejudicar a formação da placenta, desencadeando o aumento da pressão arterial e o desenvolvimento da pré-eclâmpsia.
Avanços científicos na busca por prevenção e tratamento
Os médicos ainda enfrentam dificuldades para prever com precisão quem desenvolverá a doença. No entanto, estudos recentes abriram caminho para novas formas de diagnóstico e possíveis tratamentos.
Desde 2022, um teste de sangue aprovado pela FDA nos Estados Unidos ajuda a identificar pacientes com maior risco de desenvolver pré-eclâmpsia grave nas semanas seguintes. A análise se baseia na detecção de uma proteína chamada sFlt-1, que aumenta em níveis anormais em gestantes com a doença.
Outras estratégias inovadoras envolvem a criação de um modelo de placenta em laboratório, apelidado de "placenta em um chip". Pesquisadores esperam que essa tecnologia ajude a entender melhor os processos inflamatórios que desencadeiam a pré-eclâmpsia e permitam o desenvolvimento de novos exames e terapias preventivas.
Perspectivas para o futuro: tratamentos e esperança
Atualmente, a única medida preventiva amplamente recomendada para gestantes de alto risco é o uso de aspirina em baixas doses a partir da 12ª semana de gestação. O medicamento pode reduzir em até 60% as chances de desenvolver a doença, mas ainda não é uma solução definitiva.
A pesquisa científica busca alternativas, como o uso de medicamentos já conhecidos, como metformina (usada no tratamento do diabetes) e inibidores da bomba de prótons (prescritos para azia e úlceras). Além disso, um novo medicamento experimental, CBP-4888, foi autorizado para testes clínicos e pode se tornar uma ferramenta crucial na prevenção da pré-eclâmpsia.
"Se compararmos quanto financiamento vai para o câncer, a saúde das mulheres representa apenas 1-2% desse valor", alerta Lana McClements, pesquisadora da Universidade de Tecnologia de Sydney.
Apesar dos desafios, avanços como esses podem transformar o tratamento da pré-eclâmpsia e salvar vidas, reduzindo o impacto devastador dessa doença na vida de milhares de mulheres e bebês ao redor do mundo.