Chefe da PF alerta para 'cangaço digital' e explosão de golpes bancários

A cada 16 segundos, um crime ocorre no sistema financeiro eletrônico do Brasil, segundo Andrei Rodrigues

Por Plox

12/03/2025 07h42 - Atualizado há 15 dias

Os crimes digitais estão crescendo de maneira alarmante no Brasil, conforme alertou o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues. Durante um evento da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), realizado nesta terça-feira (11), ele destacou a gravidade da situação, comparando o fenômeno ao 'cangaço digital'. Segundo ele, a cada 16 segundos, um crime ocorre no sistema financeiro eletrônico do país.


Imagem Foto: Agência Brasil


O impacto financeiro dessas ações criminosas é devastador. Estimativas do Datafolha, encomendadas pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, indicam que os prejuízos com roubos de celulares e fraudes virtuais ultrapassaram R$ 186 bilhões entre julho de 2023 e julho de 2024. Como não há um levantamento oficial consolidado, os cálculos foram baseados na perda média de cada vítima, multiplicada pelo número de ocorrências.



Rodrigues enfatizou que uma das principais estratégias da Polícia Federal para combater o crime organizado é rastrear o dinheiro obtido ilegalmente. O monitoramento das transações fraudulentas dentro do sistema financeiro permite não apenas prender os criminosos, mas também retirar deles o lucro das atividades ilícitas.

"A descapitalização dos grupos criminosos é fundamental para desmantelar essas redes", explicou o diretor-geral.



Nos últimos anos, a PF tem intensificado suas ações contra os crimes cibernéticos. A criação da Diretoria de Crimes Cibernéticos, em 2023, e da Unidade Especial de Investigação de Crimes Cibernéticos, em 2022, permitiu ampliar o combate a esse tipo de delito. Como resultado, o número de operações contra golpes virtuais saltou de cerca de 300 em 2022 para mais de mil em 2024, passando por 700 ações em 2023.


O fortalecimento da integração entre as forças policiais também tem sido um fator determinante para o avanço das investigações. Rodrigues destacou a colaboração entre a PF e as polícias civis estaduais, viabilizada pelas Forças Integradas de Combate ao Crime Organizado, financiadas pelo Senado.



Apesar dos esforços, o crime digital apresenta desafios complexos, especialmente por seu caráter transnacional. \"Os recursos obtidos com as fraudes são rapidamente convertidos em criptoativos e transferidos para o exterior\", explicou Rodrigues. Diante disso, a Polícia Federal busca estreitar parcerias com empresas privadas, órgãos do governo e entidades internacionais, como o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).


Uma das maiores operações da história da PF contra cibercrimes foi deflagrada em janeiro de 2024 e contou com a colaboração de autoridades espanholas e da Interpol. A ação resultou no desmantelamento do grupo criminoso Grandoreiro, que atuava em 45 países.


No início deste ano, o Ministério da Justiça e da Segurança Pública ampliou os pactos de cooperação internacional em encontros na Bélgica e na Holanda. Nessas reuniões, Rodrigues e o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, firmaram um acordo com a Europol, permitindo o compartilhamento de informações sobre crimes cibernéticos entre o órgão europeu e a PF.


O Secretário Nacional de Segurança Pública, Mauro Sarrubbo, reforçou que a responsabilidade pelo combate ao crime digital deve ser compartilhada entre governo, bancos e cidadãos.

"A Constituição estabelece que a segurança pública é dever do Estado, mas também é uma responsabilidade de todos", afirmou.


Ele citou o sistema Tentáculos, um banco de dados de inteligência criado para auxiliar as autoridades na identificação de golpes bancários.


Apesar dos avanços, Sarrubbo reconheceu que o Brasil ainda enfrenta dificuldades estruturais para enfrentar esses crimes. \"Precisamos de uma abordagem mais integrada, reunindo Polícia Federal, forças estaduais, setor privado e o Ministério Público\", declarou.


A Febraban ressaltou que colabora com a PF desde 2017, quando foi criado o Tentáculos, e que, no final de 2023, a parceria foi estendida às polícias civis, reforçando o compartilhamento de informações para combater as fraudes financeiras.



O avanço dos golpes digitais preocupa autoridades e instituições financeiras, que buscam formas de conter o prejuízo bilionário gerado por essas ações criminosas. A cooperação entre governo e setor privado se mostra cada vez mais essencial para enfrentar esse novo tipo de 'cangaço', que agora se espalha pelo mundo digital.


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