Estudo alerta para riscos do botox estético e contesta sua segurança
Pesquisa da Unifesp analisou 50 estudos internacionais e revelou que a aplicação de toxina botulínica para fins estéticos pode trazer complicações relevantes à saúde
Por Plox
12/04/2025 14h16 - Atualizado há 14 dias
A toxina botulínica, mais conhecida como botox, é um dos procedimentos estéticos não cirúrgicos mais populares no mundo. Em 2022, mais de 9,2 milhões de aplicações foram realizadas, segundo a Sociedade Internacional de Cirurgia Estética (Isaps).

No entanto, apesar da popularidade, um novo estudo realizado por pesquisadores da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) levanta um importante alerta: o botox não pode ser considerado um procedimento minimamente invasivo. A conclusão surgiu após a análise de 50 pesquisas internacionais publicadas entre 2017 e 2022, compiladas em artigo recente nos Anais Brasileiros de Dermatologia.
A coordenadora do estudo, Samira Yarak, médica e professora adjunta do departamento de Dermatologia da Unifesp, destaca que a classificação errônea pode transmitir uma falsa sensação de segurança aos pacientes. “Isso mascara a possibilidade de efeitos colaterais, que existem e não são desprezíveis”, afirma.
De acordo com a especialista, a dificuldade em elaborar diretrizes com base em evidências científicas, somada ao crescimento desordenado da procura por esse tipo de intervenção, transforma as complicações em uma questão de saúde pública. Samira defende a notificação obrigatória de casos e o aprofundamento no debate sobre qualificação profissional, técnicas, produtos e tecnologias utilizados.
A dermatologista Mariana Fernandes de Oliveira, do Hospital Israelita Albert Einstein, concorda com o posicionamento. Segundo ela, o aumento no número de procedimentos realizados acaba elevando também a incidência de complicações, principalmente quando executados por profissionais sem a devida especialização.
Entre os efeitos colaterais mais comuns do botox estão hematomas, inchaço e dor no local da aplicação, geralmente leves e transitórios. Entretanto, também há registros de ptose palpebral (queda da pálpebra), assimetrias faciais, visão dupla, infecção local, dores de cabeça, náuseas, reações alérgicas e, em raros casos, anafilaxia.
Essas complicações podem ser resultado de fatores como técnicas incorretas de aplicação, uso de produtos não autorizados pela Anvisa, diluições inadequadas ou mesmo falta de qualificação dos profissionais. A cirurgiã plástica Alessandra dos Santos Silva, especialista em cirurgia craniofacial pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, enfatiza a necessidade de avaliação individualizada de cada paciente, considerando histórico médico, necessidades específicas e expectativas.
Ela também reforça que os procedimentos devem ocorrer em ambientes com rigorosas condições de assepsia, para garantir a segurança do paciente.
Entre as contraindicações para o uso de botox, estão doenças autoimunes, inflamações ativas, alergias a componentes da fórmula, distúrbios de coagulação, doenças neuromusculares, gravidez e lactação. No Brasil, diversos profissionais estão autorizados a aplicar a toxina botulínica, como médicos, dentistas, farmacêuticos, biomédicos e enfermeiros. Contudo, é fundamental verificar a formação e a capacitação técnica antes de se submeter ao procedimento.
Samira Yarak ressalta que o conhecimento profundo sobre a anatomia facial, princípios farmacológicos da substância e suas interações é essencial para a prática segura. Já Mariana Fernandes orienta os pacientes a pesquisarem referências do profissional e observarem sua abordagem durante a consulta. “Garantir um atendimento seguro, realista e com resultados naturais deve ser prioridade”, conclui.