Psicose pós-parto transforma realidade de mães e exige internação urgente
Distúrbio raro, a psicose pós-parto pode causar alucinações, confusão e risco de morte; casos exigem atenção médica imediata
Por Plox
12/05/2025 11h34 - Atualizado há 1 dia
Quando Ellie deu à luz em casa, sem anestesia, sentia-se eufórica com a nova fase da maternidade. Nos dias que seguiram o parto, mesmo com noites mal dormidas, ela acreditava que não precisava descansar.

A sensação de viver entre sonho e realidade não desaparecia. Até que, em um momento de total confusão, ela acreditou ter matado o próprio bebê na cama. Seu companheiro entrou no quarto enquanto ela perguntava repetidamente:
"isso é real?"
. Ellie enfrentava um episódio de psicose pós-parto (PPP), uma condição rara, grave e de rápida progressão, que exige internação hospitalar imediata.
Entre os sintomas mais comuns da PPP estão alterações bruscas de humor, alucinações, sensação de culpa irracional, vozes imaginárias, agitação intensa e perda de conexão com a realidade. Embora a falta de sono seja frequente no pós-parto, a PPP pode impedir completamente o descanso. Muitas vezes, os primeiros sinais passam despercebidos, confundidos com depressão ou simples exaustão materna.
O diagnóstico precoce é essencial, mas nem sempre ocorre. Muitas mulheres ainda recebem prescrições de calmantes quando, na verdade, necessitam de internação especializada. Organizações como a APP (Reino Unido), COPE (Austrália) e PADA (Nova Zelândia) alertam para a importância do preparo das equipes de saúde.
As causas da PPP ainda não são completamente compreendidas. A hipótese mais aceita relaciona os episódios às alterações hormonais intensas que ocorrem durante o parto. Não há exames que identifiquem com precisão quem será afetado. Estatísticas mostram que entre uma e duas mulheres a cada mil partos desenvolvem a condição.
Ellie, por exemplo, já sofria de transtorno bipolar tipo 1, o que aumentou seu risco. Pesquisas da Universidade de Cardiff indicam que cerca de 25% das mulheres com esse transtorno terão um episódio grave após o nascimento do primeiro filho. Hoje, países como Reino Unido e Austrália aconselham a continuidade da medicação durante a gravidez para mulheres nessa condição.
Sem o tratamento adequado, as mães podem se colocar ou colocar os bebês em risco. Por isso, especialistas recomendam a internação em unidades psiquiátricas de mãe e bebê (MBUs), onde a mãe é acompanhada enquanto mantém contato com o filho. Porém, a escassez de vagas ainda é um desafio global.
Ariane Beeston, porta-voz do COPE, também passou por um episódio de PPP. Em seu livro, narra alucinações com dragões e drones do governo. Após ser internada em uma MBU, recebeu o suporte necessário para dormir, criar vínculos com o bebê e se recuperar. A decisão de sair dessas unidades, inclusive, exige análise cuidadosa da equipe médica.
Outro desafio comum está na amamentação. Mulheres em tratamento contínuo devem discutir com médicos os impactos da medicação durante esse processo. Em muitos países, a falta de estruturas adequadas e o peso de julgamentos culturais dificultam ainda mais o tratamento. Em algumas regiões da Índia, por exemplo, a PPP é atribuída a possessões espirituais. Em Hong Kong, falhar no papel materno é considerado vergonhoso.
Para aquelas que desejam ter mais filhos, o risco de um novo episódio é de cerca de 50%. Estudos das universidades de Manchester e Cardiff sugerem que o planejamento, o apoio de familiares e profissionais especializados, além de um foco maior na saúde materna, podem reduzir as chances de recaída.
O caso de Ellie, hoje envolvida no apoio a outras mães, mostra como o acesso à informação, diagnóstico correto e acolhimento são fundamentais para transformar dor em recuperação. Seu relato reforça que a PPP, apesar de grave, tem tratamento eficaz quando há suporte adequado.