Répteis voadores pré-históricos sobrevoaram o Brasil há milhões de anos

Espécies com habilidades únicas e fósseis preservados no Ceará e Paraná revelam o passado surpreendente dos pterossauros no país

Por Plox

12/05/2025 11h08 - Atualizado há 1 dia

Muito antes de os primeiros humanos existirem, os céus do que hoje conhecemos como Brasil eram dominados por criaturas aladas impressionantes: os pterossauros. Esses répteis voadores, com envergadura de até seis metros, sobrevoavam amplamente a América do Sul, mas seus fósseis são encontrados, atualmente, apenas em regiões específicas como o Ceará e o Paraná.


Imagem Foto: Julio Lacerda/Divulgação


O paleontólogo Luiz Eduardo Anelli, do Instituto de Geociências da USP, reúne no livro 'Pterossauros do Brasil' ilustrações e informações sobre essas criaturas que muitas vezes são confundidas com dinossauros. Ele destaca a importância da pré-história para aproximar as pessoas da ciência e incentivar o conhecimento desde a infância.


Entre os fósseis encontrados em solo brasileiro, quatro espécies chamam atenção por suas particularidades. Duas delas, localizadas no Ceará, incluem o Anhanguera piscator, conhecido por suas habilidades de pesca, e o Caiuajara dobruskii, com sua crista imponente e fóssil amplamente distribuído. No Paraná, outras duas espécies também se destacam, revelando um panorama ainda mais diversificado da fauna mesozoica brasileira.



Esses répteis pertencem ao grupo dos arcossauros, o mesmo dos dinossauros e crocodilomorfos. Acredita-se que surgiram cerca de 219 milhões de anos atrás, durante o fim do período Triássico, um pouco depois dos primeiros dinossauros. Inclusive, os fósseis mais antigos de dinos foram encontrados no Sul do Brasil, como os lagerpetídeos Ixalerpeton polesinensis e Venetoraptor gassenae, que podem ter relação evolutiva com os pterossauros.


Apesar de compartilharem o céu pré-histórico com os dinossauros, os pterossauros são uma linhagem distinta. Enquanto os dinos tinham geralmente três dedos nas mãos e vértebras fundidas na bacia, os pterossauros possuíam quatro dedos — com o quarto extremamente alongado — e ossos ocos adaptados ao voo. Uma estrutura chamada pteroide auxiliava na sustentação de suas asas.



As diferenças não param aí. Embora tanto os pterossauros quanto as aves atuais voem, estas últimas descendem de pequenos dinossauros e não têm qualquer relação direta com os répteis alados extintos. A evolução da capacidade de voo ocorreu de forma independente em três grupos de vertebrados: pterossauros, aves e morcegos.


A extinção dos pterossauros, por sua vez, não foi causada apenas pelo impacto do meteoro que atingiu o México. Esses animais de grande porte exigiam muita comida, reproduziam-se lentamente e ocupavam nichos ecológicos sensíveis. Em contrapartida, as aves menores e adaptáveis conseguiram sobreviver graças à alimentação variada e à reprodução mais rápida.



Hoje, fósseis desses impressionantes seres continuam sendo encontrados e estudados, revelando mais sobre um período que, apesar de representar apenas 4% da história da Terra, foi fundamental para moldar a vida como conhecemos. Os céus do Brasil, há milhões de anos, abrigaram voadores incríveis — agora eternizados nas rochas e na memória da ciência.


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