Prefeito de Mariana se recusa a assinar acordo e critica valores repassados
Juliano Duarte não aderiu ao Acordo do Rio Doce, alegando que a cidade receberia compensação insuficiente pela tragédia de 2015
Por Plox
12/06/2025 16h23 - Atualizado há 2 dias
Durante uma cerimônia oficial realizada nesta quinta-feira (12) em Mariana (MG), o prefeito da cidade, Juliano Duarte (PSB), surpreendeu ao anunciar publicamente que a administração municipal não aderiu ao novo Acordo do Rio Doce, firmado após anos de negociações envolvendo as consequências do rompimento da barragem da Samarco em 2015.

O anúncio aconteceu logo após Duarte ser alvo de vaias por parte da plateia presente no evento, que contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em entrevista à Rádio Itatiaia, o prefeito esclareceu que sua decisão não se trata de um rompimento político com o governo federal, mas de uma insatisfação com os valores estipulados para a cidade.
\"Mariana não aderiu ao acordo. Isso não significa que somos contrários ao presidente Lula ou ao governo federal. Pelo contrário, apoiamos a realização do evento e recebemos todos com respeito\", afirmou Juliano. Segundo ele, os valores oferecidos pelas empresas Samarco, Vale e BHP Billiton à cidade são muito inferiores ao que se esperava, especialmente diante do montante total de R$ 170 bilhões estabelecido no acordo.
De acordo com Duarte, a proposta previa um repasse de apenas R$ 1,2 bilhão para Mariana, a ser pago ao longo de 20 anos. Para o prefeito, essa quantia não condiz com a magnitude da tragédia que matou 19 pessoas e devastou o distrito de Bento Rodrigues.
“É um valor muito baixo diante do que Mariana sofreu e diante do total do acordo. Foram 10 anos até assinarem esse documento e ainda querem que o pagamento leve mais duas décadas”,
argumentou.
Diante das críticas e manifestações negativas, o presidente Lula interveio e pediu respeito ao prefeito. “Esse momento é histórico. Não faz sentido convidar alguém para um ato institucional e ele ser mal recebido”, disse Lula, defendendo que a política local fosse deixada de lado durante a solenidade.
Juliano retribuiu o gesto, considerando a postura do presidente como republicana. Ele destacou que seu partido, o PSB, faz parte da base do governo federal e que o apoio institucional à cerimônia foi mantido em todos os momentos. “O presidente compreende a pressão que um prefeito sofre e valorizamos muito esse reconhecimento”, declarou.
Além de criticar os valores definidos no Brasil, o prefeito demonstrou confiança nas ações judiciais em andamento no Reino Unido. Ele defendeu a alternativa internacional como forma de garantir justiça para Mariana e os demais municípios atingidos. “Lá, estamos falando de um valor de R$ 28 bilhões. O que foi acordado aqui para Mariana é muito menor”, explicou.
Juliano lembrou que Mariana e outras 22 cidades não assinaram o acordo e que todas possuem ações civis públicas em andamento contra as mineradoras responsáveis pelo desastre. Ele reiterou que a maior parte da população local apoia essa decisão e reforçou que sua gestão está comprometida com os interesses da cidade: “Se você fizer uma pesquisa, 90% da população de Mariana é contra o que foi oferecido e está a favor da nossa decisão”.
O episódio reacende o debate sobre as formas de reparação pelos danos provocados pelo rompimento da barragem e expõe divergências entre lideranças políticas sobre os critérios de distribuição dos recursos pactuados.