Sexo em baixa não significa fim do relacionamento, dizem especialistas

Frequência sexual menor pode refletir nova fase do casal e não necessariamente indicar crise, apontam psicólogos e psiquiatras

Por Plox

12/06/2025 08h25 - Atualizado há 1 dia

A rotina intensa e os compromissos do dia a dia têm impactado muitos casais, fazendo com que a frequência sexual diminua ao longo dos anos. Mas, segundo especialistas, isso não necessariamente indica que a relação esteja em crise.


Imagem Foto: Pixabay


O tema ganhou destaque após a apresentadora Fernanda Lima, de 47 anos, comentar em um podcast sobre as dificuldades que ela e o marido, Rodrigo Hilbert, enfrentam para manter uma vida sexual ativa. Casados há mais de duas décadas, os dois lidam com agendas lotadas e, mesmo assim, seguem juntos. A fala repercutiu nas redes sociais, levantando o debate: a falta de sexo é um indicativo de que o relacionamento vai mal?


O mestre em psicologia clínica Marcos Torati, com especialização em psicanálise e psicoterapia focal, afirma que a ausência de relações íntimas pode, na verdade, indicar uma nova fase no relacionamento. Segundo ele, alguns casais se adaptam à falta de sexo, reforçando o vínculo de convivência e parceria, embora a dimensão erótica se enfraqueça. Ainda assim, momentos simples, como assistir a um filme romântico ou erótico juntos, podem reavivar o desejo.



A psiquiatra Danielle Admoni destaca que o sexo, embora importante, não é o único pilar de uma relação duradoura. Ela explica que, com o tempo, a paixão tende a ser substituída por interesses comuns, como projetos, filhos e objetivos de vida. Para ela, um relacionamento baseado apenas no sexo está fadado a ruir, pois falta a base sólida da parceria.


Giovanna, 31, empreendedora, e Rafael, também de 31, designer de móveis, estão juntos há 11 anos e mostram essa transição. O casal costumava buscar maneiras criativas para manter a chama acesa, como fingir que não se conheciam ao sair para festas. Atualmente, mesmo com menos relações sexuais, priorizam outras formas de conexão: jogam videogames, colaboram no trabalho e conversam sobre os desafios da convivência.



A psicóloga Laila, 32, e o empreendedor Lucas, 36, juntos há oito anos, exemplificam esse amadurecimento emocional. Ela diz que o desejo se mantém através da troca de cuidados e da construção conjunta de objetivos. Para Lucas, o relacionamento ficou mais forte quando passaram a projetar um futuro como casal, firmando um elo baseado no crescimento mútuo.


Marcos Torati explica que, no início, o amor tende a ser idealizado e voltado à necessidade de ser amado, o que ele classifica como paixão narcísica. Porém, com o tempo, essa idealização se transforma em uma visão mais real do parceiro e da convivência.



O cinema também ilustra essa realidade. Em \"Antes do Amanhecer\", da trilogia de Richard Linklater, a personagem Celine menciona a perda gradual da audição pelos casais ao envelhecerem — os homens dos sons agudos e as mulheres dos graves — como uma metáfora sobre as dificuldades de comunicação ao longo dos anos. O parceiro Jesse ironiza dizendo que talvez isso seja uma forma da natureza permitir que os casais envelheçam juntos sem se matarem.


Essa imagem cinematográfica traduz a necessidade constante de adaptação. Ouvir o outro, inclusive nos silêncios e nas sutilezas, é essencial para que a relação se fortaleça na intimidade construída no dia a dia.


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