Exportações em queda podem influenciar preços no Brasil
Especialistas apontam que setores como café, aço e sucos podem ter preços reduzidos no mercado interno
Por Plox
12/07/2025 08h35 - Atualizado há 1 dia
A recente decisão do governo norte-americano, sob comando de Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, provocou reações imediatas no setor econômico. Uma das dúvidas que emergem dessa mudança é se a menor capacidade de exportar esses produtos poderá gerar redução nos preços dentro do Brasil.

De acordo com especialistas, embora a lógica da oferta e da procura indique que produtos sem saída para o exterior possam sobrar no mercado interno e, assim, ter seus preços reduzidos, a realidade pode ser mais complexa. Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos, avalia que setores específicos devem, sim, ser impactados com uma possível queda nos valores.
“Com a exportação dificultada, produtos como o aço podem ser redirecionados para o mercado doméstico, aumentando a oferta interna e puxando os preços para baixo, especialmente em áreas como construção civil e fabricação de bens duráveis”, explicou Patzlaff.
Ele também cita o setor cafeeiro como um dos que pode sofrer redirecionamento. “Os produtores de café podem passar a focar mais no mercado brasileiro como alternativa para manter sua rentabilidade. Esse movimento também pode ser observado com sucos e carnes, a depender da viabilidade de envio para outros mercados”, destacou.
No entanto, o especialista ressalta que a tendência não será generalizada.
“Essas mudanças são setoriais e pontuais, não significam uma desaceleração da inflação como um todo”,
afirmou. Patzlaff ainda mencionou a possibilidade de o Brasil importar produtos com valores mais acessíveis de países como China e Índia, o que também poderia gerar um efeito localizado de queda de preços.
Apesar disso, o economista Daniel Weigert Cavagnari, que coordena os cursos de Gestão Financeira da Uninter, lembra que existem fatores macroeconômicos que devem ser levados em conta. Ele reconhece que itens como suco de laranja, café e aço podem de fato baratear, mas chama atenção para o impacto da redução nas exportações nas reservas internacionais do país.
“Quando o Brasil exporta menos, recebe menos dólares. Isso causa uma redução nas reservas em moeda estrangeira, o que pode levar o Banco Central a aumentar os juros, como a taxa Selic, para conter a inflação e atrair capital externo”, avaliou Cavagnari.
Ele ainda alerta para o risco de fuga de capitais, que pode elevar o câmbio. “O dólar e o euro provavelmente ficarão mais caros, o que significa que o brasileiro vai pagar mais por muitos itens importados, inclusive pelas criptomoedas, que tendem a subir também”, pontuou.
Em resumo, mesmo que setores específicos possam se beneficiar de preços mais baixos internamente, o cenário econômico como um todo pode enfrentar um período de instabilidade. A diminuição das exportações pode significar menos entrada de divisas, pressão sobre o câmbio e juros mais altos, com impactos diretos no bolso da população. A situação demanda atenção, pois embora o consumidor possa observar queda nos preços de alguns produtos, outros fatores devem manter a inflação pressionada nos próximos meses.