Tarcísio tenta costurar apoio nos EUA e com STF em meio à crise do tarifaço

Governador de São Paulo se movimenta para atuar como negociador entre Trump e o Brasil, mas enfrenta resistência de ministros, bolsonaristas e do próprio ex-presidente

Por Plox

12/07/2025 10h28 - Atualizado há cerca de 22 horas

No centro de uma tormenta diplomática e política, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, mergulhou em uma intensa agenda de articulações para tentar mitigar os efeitos do tarifaço imposto por Donald Trump ao Brasil. Considerado um potencial candidato à Presidência em 2026, Tarcísio movimentou-se entre Brasília e São Paulo na tentativa de viabilizar um papel como interlocutor junto ao governo norte-americano.


Imagem Foto: Agência Brasil


Na última quinta-feira (10), ele suspendeu compromissos no Palácio dos Bandeirantes e seguiu para Brasília, onde se reuniu com o ex-presidente Jair Bolsonaro. Um dia depois, o governador teve um encontro com Gabriel Escobar, chefe da embaixada dos Estados Unidos no Brasil, em busca de alternativas que atenassem os impactos econômicos da nova tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. Em publicação nas redes sociais, Tarcísio destacou que tratou das consequências para a indústria e o agronegócio nacional, além do reflexo disso para empresas americanas.



Apesar da tentativa de construir pontes, o gesto não foi bem recebido por todos. Dentro do próprio campo bolsonarista, há resistência à iniciativa. Eduardo Bolsonaro, deputado licenciado e filho do ex-presidente, condicionou a suspensão das tarifas a uma anistia ampla e irrestrita aos envolvidos em processos relacionados à tentativa de golpe, incluindo seu pai, réu no Supremo Tribunal Federal (STF). \"Enquanto o sistema tiver esperanças de que ele surja como o Salvador da Pátria intermediando um acordo com os EUA, não vão nem cogitar aquela que é a única solução real: a anistia ampla, geral e irrestrita\", declarou o ex-apresentador Paulo Figueiredo.



O próprio Bolsonaro não esconde que seu foco está em conquistar a anistia. Em nota publicada um dia antes da reunião com Tarcísio, ele praticamente ignorou o tarifaço e insistiu para que as autoridades brasileiras atendam rapidamente às exigências de Trump, que pede o encerramento do julgamento no STF. Caso condenado, Bolsonaro pode enfrentar uma pena de até 40 anos.


Tarcísio também procurou ministros do Supremo para defender que Bolsonaro fosse autorizado a viajar aos EUA e negociar diretamente com Trump. A proposta, porém, foi recebida com surpresa e classificada como \"esdrúxula\" por integrantes da Corte.



Além das resistências institucionais, o entorno de Bolsonaro vê a movimentação de Tarcísio como uma tentativa de voo solo político. Interlocutores próximos ao ex-presidente acreditam que uma eventual mediação bem-sucedida daria ao governador paulista um protagonismo eleitoral que ameaça a liderança de Bolsonaro no campo da direita.


Enquanto isso, o Palácio do Planalto explora o vínculo de Tarcísio com Trump, inclusive com a divulgação de fotos antigas em que o governador aparece com um boné da campanha republicana. A imagem, publicada nas redes sociais após as eleições nos EUA, foi recentemente apagada.



Em meio a esse cenário, o governador se vê em um dilema. Se se alinhar totalmente a Bolsonaro e à sua narrativa de perseguição política, pode perder apoio de setores moderados, mercado financeiro e o agronegócio. Por outro lado, se endossar as medidas americanas, corre o risco de se distanciar da base bolsonarista.


Na última segunda-feira (7), quando Trump publicou uma defesa pública de Bolsonaro, Tarcísio se apressou em repercutir a postagem, afirmando:
\"Jair Bolsonaro deve ser julgado somente pelo povo brasileiro, durante as eleições. Força, presidente\"

, numa crítica indireta às decisões do STF e do TSE, que tornou o ex-presidente inelegível até 2030.

A crise ganhou novo episódio na quarta-feira (9), quando o Itamaraty convocou duas vezes o chefe da missão americana no Brasil para prestar esclarecimentos sobre a carta enviada por Trump ao presidente Lula. Na segunda convocação, a diplomacia brasileira chegou a devolver simbolicamente o documento, demonstrando insatisfação com a condução da política bilateral.



No comunicado oficial, a embaixada americana confirmou o encontro com Tarcísio e enfatizou que São Paulo concentra o maior volume de investimentos dos EUA no Brasil. A representação ainda ressaltou que os diplomatas mantêm contato frequente com governadores, reforçando a normalidade da reunião.


A movimentação de Tarcísio ocorre em meio a um cenário político delicado, onde cada passo pode ter efeitos diretos em sua imagem e nas relações entre os principais atores da direita brasileira.


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