Famílias de Mariana temem impacto financeiro em novas moradias entregues pela Renova

Nova realidade em Bento Rodrigues e Paracatu preocupa moradores sobre custos futuros

Por Plox

12/08/2024 08h24 - Atualizado há cerca de 1 mês

 

Após quase nove anos de espera, moradores atingidos pelo rompimento da barragem em Mariana enfrentam insegurança sobre o custo de vida nas novas residências entregues pela fundação, com preços que chegam a R$ 2,8 milhões.

 

Foto: Felipe Werneck/Ascom/Ibama

Incertezas sobre o futuro financeiro

A entrega das novas residências para as famílias dos distritos de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, destruídos pela tragédia de Mariana em 2015, tem gerado preocupações entre os moradores sobre o impacto financeiro a longo prazo. Embora as novas casas, construídas pela Fundação Renova, sejam modernas e bem estruturadas, a transição para esses espaços urbanos trouxe desafios inesperados para as famílias, que antes viviam em áreas rurais.

Muitos dos antigos residentes, que hoje dependem do auxílio financeiro da Renova para cobrir despesas como água e energia, temem não conseguir arcar com os custos quando esse apoio cessar dentro de cinco anos. Antes do desastre, grande parte dos moradores não pagava integralmente essas contas, recorrendo a métodos alternativos para garantir os serviços básicos.

Novas moradias e expectativas divergentes

Os novos distritos de Bento Rodrigues e Paracatu, embora estejam bem equipados com infraestrutura moderna, como escolas com telas interativas, postos de saúde e estações de tratamento de água e esgoto, não refletem a realidade anterior das comunidades. Os espaços, que se assemelham a condomínios de classe média alta, contrastam com a simplicidade das antigas vilas rurais, onde a criação de animais e o trabalho nas propriedades vizinhas eram comuns.

Romeu Geraldo de Oliveira, morador de Paracatu de Baixo, expressa a insatisfação com as mudanças: "Hoje, não é área rural mais; não se pode ter galinha, porco nem nada. A Renova precisa criar um modo de sobrevivência da comunidade; alguma coisa que gere uma renda. Hoje, todo mundo aqui só sobrevive com o cartão emergencial que a Renova paga."

Preocupações com o IPTU e a valorização dos imóveis

Um dos maiores desafios para os moradores será o pagamento do IPTU, imposto que substitui o ITR (Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural) que muitos pagavam antes. Como as novas áreas foram urbanizadas, o imposto agora é calculado com base no valor do metro quadrado, que em Mariana é de R$ 215, além de outros fatores relacionados à qualidade do imóvel.

A insegurança financeira é agravada pelo alto valor de mercado das novas propriedades. Casas nos novos distritos estão sendo anunciadas por até R$ 2,8 milhões, um preço inalcançável para muitos dos antigos moradores. Romeu, que participou de um protesto contra a Renova, alerta para o risco de que muitos não consigam manter suas novas residências e acabem vendendo as propriedades: "No final das contas o pessoal vai vender essas casas porque não terá como manter isso aqui."

Disparidade de preços e novas realidades

Além do IPTU, o custo de vida nos novos distritos também preocupa. Eliana Santos, moradora de Bento Rodrigues, lamenta o aumento dos preços na região, atribuído ao desenvolvimento das novas áreas. "Uma casquinha de sorvete com duas bolas custa R$ 12; esse também é o preço de uma lata de cerveja no bar", relata Eliana, destacando que a percepção externa de riqueza contrasta com as dificuldades enfrentadas pelos moradores.

Obras em andamento e desafios futuros

Até o momento, a Renova entregou 144 casas em Bento Rodrigues e 62 em Paracatu, mas ainda há imóveis que precisam de reparos. A fundação afirma que as chaves dos imóveis podem ser entregues para venda pelos moradores assim que recebidas, o que já está ocorrendo em alguns casos.

 

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