Minas Gerais enfrenta a pior cobertura médica do Sudeste

Estudo revela baixa proporção de médicos por habitante no Estado e carência de especialistas impacta a saúde pública

Por Plox

12/08/2024 08h14 - Atualizado há cerca de 1 ano

Minas Gerais está em uma situação crítica no que diz respeito à disponibilidade de médicos, sendo o Estado do Sudeste com a menor proporção de profissionais por habitante. Com apenas 2,91 médicos para cada mil habitantes, Minas enfrenta desafios severos no atendimento à saúde, especialmente em áreas fora dos grandes centros urbanos. Esse índice é inferior ao de outros Estados da região, como São Paulo, com 3,5 médicos por mil habitantes, e Rio de Janeiro, com 3,77. No Espírito Santo, a média é de 3 médicos por mil habitantes, segundo dados divulgados pela Associação Médica Brasileira (AMB).

A disparidade na distribuição de médicos é ainda mais alarmante quando analisada a situação nas áreas mais afastadas das capitais. Enquanto nas capitais brasileiras a média de médicos por mil habitantes é de 6,13, nos interiores essa média cai para apenas 1,84. Essa escassez impacta diretamente a população, que enfrenta longas filas e demora no acesso a diagnósticos e tratamentos.

Especialidades críticas e casos de sofrimento

A situação se agrava ao observar a disponibilidade de especialistas no Estado. Dados obtidos pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) através da Lei de Acesso à Informação revelam que, das 70 especialidades médicas listadas, 18 possuem menos de 100 especialistas atuando no Sistema Único de Saúde (SUS) em todo o Estado. Profissionais como broncoesofalogistas, foniatras e hansenologistas simplesmente não existem no SUS de Minas Gerais.

Essa carência tem impactos diretos na vida de pacientes como Cibele Aparecida de Almeida, de 39 anos, que há meses aguarda um diagnóstico para um nódulo no pescoço. "O caroço está comprimindo as amígdalas. A dor é constante, a garganta dói, e sinto queimação no pescoço", relata Cibele, que perdeu 12 quilos enquanto tenta, sem sucesso, marcar um ultrassom pelo SUS.

Acesso restrito a especialistas e cirurgias eletivas

A dificuldade em acessar especialistas também é evidente em outras áreas da medicina. Atualmente, cerca de 30 mil pessoas aguardam por uma consulta com oftalmologistas em Minas Gerais, muitas delas em situação de risco, segundo Alan Rodrigo da Silva, coordenador de Vigilância em Saúde da Macrorregião Oeste. “A gente prioriza os atendimentos de urgência porque envolve risco de morte, mas, quando essa pessoa precisa de acompanhamento de algum especialista, ela fica dez anos esperando. Algumas não resistem”, afirma.

Além da oftalmologia, áreas como endocrinologia também estão sobrecarregadas. Com apenas 997 endocrinologistas no SUS de Minas, pacientes com doenças comuns como diabetes e hipotireoidismo enfrentam longas esperas por tratamento adequado.

Em Belo Horizonte, cerca de 28 mil pessoas estão na fila por uma cirurgia eletiva. A capital, que é referência para aproximadamente 500 cidades do Estado, sofre com a escassez de profissionais em especialidades como otorrinolaringologia e ortopedia. Casos como o de Sandra Helena Ferreira dos Anjos, que há dez anos espera por uma cirurgia para tratar a síndrome do túnel do carpo, ilustram a gravidade da situação. “Minha mão direita fica completamente inchada, e a dor piora à noite”, conta Sandra, que encontra dificuldades até mesmo para realizar os exames necessários para a cirurgia.

Falta de patologistas e atrasos no diagnóstico de câncer

O câncer é a principal causa de morte em 115 cidades mineiras, representando 17,5% das mortes no Estado. Em 2023, mais de 80 mil pessoas foram diagnosticadas com a doença em Minas Gerais, mas a detecção precoce e o tratamento são comprometidos pela falta de patologistas. Atualmente, o SUS no Estado conta com apenas 251 desses profissionais, responsáveis por analisar biópsias e identificar tipos de tumores.

A escassez de patologistas aumenta a espera pelos resultados dos exames, que em alguns casos pode chegar a 70 dias, dificultando o início do tratamento para os pacientes com câncer. Pedro Neves, médico patologista, destaca o impacto desse atraso: “Estamos conseguindo liberar os resultados em dez dias, mas no SUS a espera chega a 70”, explica.

Investimentos e desafios para o futuro

Parte da solução para a crise de saúde em Minas Gerais passa pelo aumento de investimentos e pela descentralização dos serviços de saúde. A SES-MG investiu R$ 120 milhões entre janeiro e maio de 2024, com previsão de repassar mais R$ 252 milhões até o fim do ano para fortalecer a política Opera Mais e equipar os hospitais. Entretanto, a falta de especialistas continua sendo um obstáculo, agravado pela baixa remuneração oferecida na rede pública em comparação com a rede privada.

O governo federal planeja avançar com o programa Mais Acesso a Especialistas, que visa garantir a resolutividade de todas as etapas do tratamento dos pacientes, desde a consulta até a realização dos exames necessários. O programa prevê o uso de teleconsultas para acelerar diagnósticos, com a expectativa de implantação em Belo Horizonte a partir de setembro de 2024.

Enquanto isso, pacientes como Everton Pablo, que aguarda uma cirurgia de correção da retina desde o início do ano, enfrentam a incerteza e o medo de perder a visão por falta de atendimento. "A fila está gigante, e eu tenho que aguardar. Meu medo é perder a visão a qualquer momento", desabafa.

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