Dólar atinge menor cotação em 15 meses, mas Bolsa fecha em queda

Expectativa de corte nos juros dos EUA derruba o dólar; Ibovespa recua diante de temor por retaliações após condenação de Bolsonaro

Por Plox

12/09/2025 18h52 - Atualizado há cerca de 21 horas

Em uma sexta-feira marcada por tensão nos mercados, o dólar encerrou o dia em forte baixa, cotado a R$ 5,35 — o menor patamar desde junho de 2024, registrando uma queda de 0,71% frente ao real. Já a Bolsa de Valores brasileira não seguiu o mesmo movimento: o Ibovespa recuou 0,61% e fechou aos 142.271 pontos, afastando-se do recorde histórico de 143.150 pontos atingido na véspera.


Imagem Foto: Agência Brasil


Segundo Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad, o dólar vem perdendo força globalmente, reflexo direto da expectativa de que os juros nos Estados Unidos começarão a ser reduzidos. Essa perspectiva deve se confirmar na próxima reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc), marcada para quarta-feira, dia 17 de outubro. A atual taxa americana está entre 4,25% e 4,50%, e já se discute não mais se ela será cortada, mas quantas vezes isso ocorrerá até o fim do ano.



Na última quinta-feira, um novo dado reforçou o cenário de enfraquecimento da economia dos EUA. O Departamento do Trabalho informou que os pedidos iniciais de seguro-desemprego chegaram a 263 mil na semana encerrada em 6 de setembro — o maior número desde outubro de 2021. Além disso, indicadores de inflação e deflação nos preços ao produtor sustentaram a expectativa do mercado. “A inflação veio dentro do previsto e há deflação no atacado. Isso reforça a certeza de que o Fed vai agir”, analisou Zogbi.



De acordo com a ferramenta FedWatch, do CME Group, 94,4% dos agentes do mercado apostam em uma redução de 0,25 ponto percentual nos juros na próxima reunião. Outros 5,6% acreditam numa redução ainda maior, de 0,50 ponto percentual. A tendência é que mais dois cortes ocorram ainda em 2025 — um em outubro e outro em dezembro. Esse cenário amplia o diferencial entre os juros dos EUA e os do Brasil, o que atrai investidores estrangeiros para o mercado nacional em busca de rendimentos mais elevados.


Nesta sexta, o Banco Central brasileiro reforçou esse movimento ao promover dois leilões de linha simultâneos, disponibilizando US$ 1 bilhão ao mercado. Essa injeção ajudou a pressionar ainda mais a queda do dólar.


Apesar do cenário favorável para o câmbio, o mercado de ações brasileiro não acompanhou o otimismo. A queda do Ibovespa foi atribuída à cautela dos investidores diante do cenário político. A condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF) acendeu alertas no mercado, especialmente por conta das possíveis reações do presidente americano, Donald Trump.


“Foi uma decisão terrível, muito ruim para o Brasil”, afirmou Trump, em sua primeira declaração após o julgamento

. A fala do presidente norte-americano alimentou temores de represálias, como sanções direcionadas a autoridades brasileiras, inclusive com a aplicação da Lei Magnitsky — já utilizada contra o ministro Alexandre de Moraes.

Circulam ainda especulações sobre possíveis revisões das isenções tarifárias concedidas pelos EUA a produtos brasileiros. Uma dessas exceções, relacionada a uma tarifa de 50%, poderia ser revista como forma de pressão política, aumentando o risco percebido por investidores internacionais.



Enquanto o câmbio se beneficia de expectativas externas, a Bolsa reflete o nervosismo com o cenário político nacional e internacional. O desenrolar dos próximos dias, especialmente após a reunião do Fomc, será crucial para entender os próximos movimentos dos mercados brasileiros.



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