Fitch diz que Brasil precisa reduzir dívida para retomar grau de investimento
Agência de risco reconhece avanços econômicos, mas alerta que alto endividamento impede melhora na nota de crédito do país
Por Plox
12/09/2025 12h28 - Atualizado há 1 dia
Apesar dos avanços recentes na economia brasileira, como a redução da inflação e o crescimento acima do esperado, o Brasil ainda está distante de recuperar o selo de bom pagador, segundo a agência de classificação de risco Fitch Ratings.

Durante visita ao país na última terça-feira (9), Shelly Shetty, diretora de riscos soberanos para Ásia e Américas da Fitch, destacou que a consolidação fiscal e a estabilização da dívida pública são fundamentais para que o Brasil volte a alcançar o grau de investimento. Atualmente, o país mantém nota BB com perspectiva estável — dois níveis abaixo do grau de investimento, perdido em 2015.
Shelly afirmou que, embora a inflação esteja sob controle e o desemprego em queda, esses fatores, por si só, não garantem a elevação da nota de crédito. Segundo ela, políticas que incentivem investimentos e reformas estruturais, como a flexibilização de gastos obrigatórios, são essenciais para impulsionar o crescimento sustentável.
Ela comparou o cenário atual ao de 2008, quando o Brasil obteve o grau de investimento pela primeira vez, e apontou que as perspectivas de crescimento hoje são mais fracas. Naquele ano, o PIB cresceu 4,8%; já para 2025, a Fitch estima expansão de 2,5%. A dívida pública, que representava 56% do PIB em 2008, deve encerrar 2025 em 79,3%.
Shelly destacou que, para estabilizar a dívida, o país precisaria gerar um superávit primário entre 2% e 3% do PIB, por meio de corte de despesas e aumento da arrecadação.
Ela citou o México como exemplo na região, país que mantém grau de investimento com nota BBB- estável. De acordo com Shelly, mesmo com alta exposição aos Estados Unidos, a solidez fiscal mexicana contribui para manter o selo de bom pagador. A dívida mexicana gira entre 45% e 60% do PIB, abaixo dos quase 80% registrados pelo Brasil.
Sobre possíveis impactos das tarifas dos Estados Unidos contra o Brasil, a analista minimizou os efeitos, ressaltando que o país tem baixa exposição comercial aos EUA — apenas 2% do PIB — e conta com reservas internacionais robustas e regime cambial flexível.
Shelly também comentou a atuação do Banco Central brasileiro, que, segundo ela, tem se mostrado firme na busca pelo controle da inflação. O IPCA acumulado nos últimos 12 meses foi de 5,13%, superando o teto da meta de 4,5%. Ela reforçou a importância da independência dos bancos centrais para manter a estabilidade macroeconômica.
Ao falar sobre o cenário internacional, Shelly afirmou que a expectativa da Fitch é que o Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, continue autônomo em suas decisões, apesar das pressões políticas recentes.