Minas Gerais investiga possível caso de "vaca louca" em idoso internado com sintomas neurológicos
Secretaria de Saúde de Minas Gerais avalia quadro clínico para descartar relação com doença bovina; exames detalhados seguem em curso
Por Plox
12/11/2024 07h26 - Atualizado há cerca de 2 meses
Um idoso de 78 anos foi internado em Caratinga, na região do Rio Doce, Minas Gerais, com sintomas neurológicos que levantaram suspeita inicial de encefalite espongiforme bovina, conhecida como "doença da vaca louca". De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), não há até o momento confirmação de que o caso envolva a doença bovina. A suspeita mais provável é de que se trate de um caso de doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ) na forma esporádica, que não está associada à encefalite espongiforme bovina e é uma condição que afeta exclusivamente humanos.
Doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ)
A DCJ é uma doença neurodegenerativa rara e grave, que leva à deterioração cerebral rápida, com sintomas que incluem perda de memória, tremores e outras desordens cognitivas e motoras. Em média, 90% dos pacientes com DCJ evoluem para óbito em cerca de um ano. Segundo a SES-MG, essa doença ocorre predominantemente em pessoas entre 55 e 70 anos e é mais comum entre mulheres. A DCJ esporádica é a forma mais frequente, respondendo por 85% dos casos, e surge sem qualquer relação com infecções derivadas de bovinos.
Para identificação e diagnóstico de DCJ, a proteína 14-3-3, presente no líquido cefalorraquidiano, é um marcador importante. Esse exame é utilizado como um indicador de lesão neuronal, ajudando a diferenciar a DCJ de outras doenças neurológicas. No entanto, a confirmação final requer uma análise neuropatológica de fragmentos cerebrais, possível apenas após o óbito.
Variante associada à "doença da vaca louca"
A variante da Doença de Creutzfeldt-Jakob (vDCJ), ao contrário da forma esporádica, é associada à encefalite espongiforme bovina e está relacionada ao consumo de carne bovina contaminada. Casos da vDCJ foram registrados pela primeira vez no Reino Unido, em 1996, e surgiram devido ao uso de farinha de carne e ossos contaminada na alimentação de bezerros. Essa variante acomete geralmente jovens com menos de 30 anos, o que descarta a relação direta com o caso do idoso em Minas Gerais. Segundo a SES-MG, “diferentemente da forma tradicional (DCJ esporádica), a vDCJ acomete predominantemente pessoas jovens, abaixo dos 30 anos, o que não é o caso do paciente em questão.”
Critérios da OMS para suspeita de vaca louca
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define critérios para caracterizar um caso como possível, provável ou definitivo de “vaca louca”, com base em exames, sintomas clínicos e histórico epidemiológico do paciente. Apenas após a realização de uma necropsia com análise neuropatológica de fragmentos cerebrais é possível confirmar o diagnóstico de forma definitiva.
Prevenção e controle no Brasil
Medidas preventivas têm sido aplicadas pelo governo brasileiro para impedir a entrada da variante vDCJ. Desde 1998, está proibida a importação de derivados de sangue humano de doadores que residiram no Reino Unido, bem como de carne bovina e produtos de saúde com matéria-prima de países que registraram casos de encefalopatia espongiforme bovina (EEB). Até o momento, não há evidências de que a DCJ se transmita por contato casual entre humanos.
Tratamento e suporte ao paciente
Embora tratamentos diversos tenham sido estudados, nenhuma terapia demonstrou efetividade em alterar a evolução fatal da doença. O Ministério da Saúde informa que o manejo de pacientes com DCJ é essencialmente voltado ao suporte, com atenção às necessidades nutricionais e psicológicas tanto do paciente quanto da família.