Puri resistem em ocupação da Usina de Aimorés em luta por território ancestral
Indígenas da etnia Puri mantêm resistência em terras ocupadas na Usina de Aimorés, em Itueta, com apoio de deputados e reivindicação de direitos históricos.
Por Plox
12/11/2024 08h14 - Atualizado há 8 meses
Em visita ao território ocupado, a Comissão de Participação Popular da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) acompanhou a luta dos Puri pela retomada das terras onde atualmente se encontra a Usina Hidrelétrica de Aimorés, no município de Itueta, na região do Rio Doce. Há cerca de dois meses, mais de 50 famílias Puri ocupam uma área da usina, reivindicando o direito a um território que, segundo o cacique Washington Oswaldo Hoffmann, pertenceu a seus ancestrais e a outros povos indígenas ao longo dos anos. Ele afirma que a luta é pelos direitos do povo e das futuras gerações: “Nós não vamos arredar o pé porque não estamos lutando só por mim ou pela cacique (Ednea Dias Sérgio Amon). Nós estamos lutando por nosso povo, nossos descendentes”.

Liminar e ameaças de despejo
A empresa Aliança Geração de Energia, responsável pela usina, obteve uma liminar que determina a desocupação dos indígenas até o próximo sábado (16/11). O analista de relacionamento da empresa, Rubens de Souza, justificou a medida apontando que a área ocupada, com cerca de 200 metros quadrados, é uma Área de Proteção Ambiental (APA), sujeita a alagamentos que podem colocar a segurança dos indígenas em risco.
Histórico de luta e ausência de apoio oficial
Ednea Dias Sérgio Amon, outra liderança Puri, contou que a busca pelo território acontece há três anos e que, mesmo após tentativas de contato com órgãos federais, incluindo a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), nunca receberam respostas. A escolha da área da usina, segundo Ednea, também foi estratégica, pois possibilita a retomada sem conflitos com fazendeiros. O processo de planejamento da ocupação durou três meses e contou com o apoio da Associação Estadual de Defesa Socioambiental (Aedas), que detalhou a situação de vulnerabilidade enfrentada pelas famílias, incluindo dificuldades de acesso a alimentação, água potável e serviços básicos de saúde e educação.
Parlamentares assumem compromisso com a causa Puri
Durante a visita, o deputado estadual Leleco Pimentel (PT), responsável pelo requerimento que levou a Comissão ao local, comprometeu-se a buscar apoio junto a órgãos públicos municipais e federais. Ele destacou que “há aqui uma violação de direitos humanos e nós vamos levar à ministra (Sonia Guajajara, dos Povos Indígenas) e vamos levar ao presidente Lula esta denúncia”. O parlamentar criticou a ausência de representantes da Funai, convidados para a visita, e reforçou que as demandas dos Puri são uma reparação histórica para uma população que chegou a ser considerada extinta devido às inúmeras expulsões e violências sofridas.
Apoio federal e reconhecimento histórico
O deputado federal Padre João (PT/MG) também manifestou apoio aos indígenas Puri, afirmando que buscará articulação junto a ministros, ao Ministério Público e à Advocacia-Geral da União. Ele ressaltou a importância do reconhecimento dos direitos dos Puri e a necessidade de garantir o território indígena: “É preciso reconhecer que o Povo Puri, embora disperso, é um povo que tem identidade e tem seu jeito de ser e de viver. Essa retomada tem que fazer valer o direito deles”.
Memória e resistência: a história dos Puri
Os Puri, originários de um território que se estendia do Espírito Santo a São Paulo e pelo interior de Minas Gerais e Rio de Janeiro, viveram tempos de prosperidade até serem violentamente dispersos, mortos e escravizados a partir do século 18. No século 19, com a população drasticamente reduzida, foram considerados extintos. Essa ocupação na Usina de Aimorés marca, para eles, uma luta de resistência e recuperação do que consideram ser o direito de sua ancestralidade.