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Adoecimento mental cresce entre profissionais no Brasil e provoca afastamentos

Mais de 34 mil professores de SP foram afastados por transtornos mentais; saúde e segurança pública também enfrentam crise no ambiente de trabalho

12/11/2025 às 07:25 por Redação Plox

Problemas relacionados ao ambiente de trabalho têm afetado a saúde mental de muitos profissionais no Brasil, e quase meio milhão de trabalhadores acabam afastados anualmente devido ao adoecimento causado pelo emprego. O Profissão Repórter acompanhou relatos que escancaram esse cenário preocupante.

Profissional de saúde mental fala sobre a necessidade de cuidar dos pacientes, mas alerta que é importante não descuidar da própria saúde: Profissão Repórter registra a trajetória de trabalhadores afastados devido a questões de saúde mental

Profissional de saúde mental fala sobre a necessidade de cuidar dos pacientes, mas alerta que é importante não descuidar da própria saúde: Profissão Repórter registra a trajetória de trabalhadores afastados devido a questões de saúde mental

Foto: Reprodução/TV Globo

Docentes enfrentam adoecimento mental nas salas de aula

Entre janeiro de 2024 e fevereiro de 2025, mais de 34 mil professores da rede municipal de São Paulo receberam licenças médicas motivadas por transtornos mentais, um número que evidencia o impacto do ambiente escolar sobre a saúde dos educadores. O programa relatou, por exemplo, a história de uma professora de 58 anos que desenvolveu ansiedade generalizada, estresse intenso e crises de pânico após episódios traumáticos vividos em sala, incluindo agressões verbais de alunos.

A agressão foi verbal e aquela coisa de colocar o dedo no meu nariz, no meu rosto e eu sempre me esquivando, pedindo para ter paciência, porque daquilo, que não era necessário e foi aí falei que não queria mais

professora relatando episódio em sala

Mesmo com recomendação médica para afastamento de 60 dias, a licença foi de apenas um mês. Sem conseguir se imaginar diante da classe outra vez, ela já requereu aposentadoria, ainda sem previsão de resposta.

Segundo uma especialista da Faculdade de Educação da USP, é fundamental evitar a individualização do sofrimento dos docentes. Ela destaca que a falta de autonomia e o reconhecimento insuficiente do trabalho geram agravos psíquicos — fatos frequentemente apontados pelos próprios professores.

Profissionais da saúde também vivem cenário de adoecimento

O adoecimento não atinge só a educação. Técnicos de enfermagem, por exemplo, relataram impactos significativos, especialmente durante a pandemia. Após episódios de exaustão, ansiedade e crises de saúde mental, muitos precisam se afastar dos plantões. Um ponto recorrente nesses depoimentos é a percepção de falta de crença, por parte das chefias, sobre a gravidade das condições psíquicas apresentadas pelos trabalhadores.

Eu era a técnica da hemodiálise, caso de alta complexidade. Então, eu ficava dentro do CTI e lá, na pandemia, era uma demanda muito grande. Tinha muito óbito e isso vai aumentando a ansiedade nossa

Leonora Silva, técnica de enfermagem

Mesmo afastada após diagnóstico de ansiedade e depressão, a profissional relata dificuldade em retomar a rotina por completo, passando os dias em casa, com pouca vontade de se expor ao convívio social.

Policiais militares buscam apoio para lidar com o tabu

O debate sobre saúde mental também atinge profissionais da segurança. Uma policial militar com diagnóstico de Transtorno de Ansiedade Generalizada descreveu a resistência do meio ao tratar desses temas. Hoje, ela participa de rodas terapêuticas organizadas pela Associação Integrada de Mulheres de Segurança Pública, que reúne mais de 200 agentes, entre policiais, bombeiras e outras profissionais da área.

Às vezes é preciso que alguém de fora venha e diga: ‘Você não está bem, seu olhar está triste. O que está acontecendo?'. Até quando você vai olhar e falar ‘está tudo certo’. Quando realmente chegar a conta? Infelizmente, a saúde mental é vista como um tabu ainda

policial militar sobre tabu da saúde mental

A associação passou a atuar diante do aumento do adoecimento entre as agentes, oferecendo o suporte psicológico e espaços de escuta diante da sobrecarga imposta pelo cotidiano e pela dupla jornada que recai sobre muitas dessas mulheres. O suporte coletivo se mostrou essencial para enfrentar o estigma e buscar acolhimento diante do sofrimento mental.

Medidas e posicionamentos das instituições

A Secretaria Estadual de Educação afirma oferecer, desde 2024, atendimento psicológico e psiquiátrico para seus servidores, além de acumular mais de 650 mil teleatendimentos e desenvolver projetos de apoio à saúde integral e estímulo ao equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Paralelamente, a Secretaria de Gestão do Estado reforça que a decisão sobre afastamentos é tomada pelos peritos oficiais, que avaliam cada caso de forma técnica e imparcial, inclusive nos casos de divergência entre opiniões médicas.
Informação relatada pelo Profissão Repórter.

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