Mais de 2 mil funcionários são demitidos por rede de supermercados no fim do ano
Desligamentos ocorrem em plena alta de vendas, período em que o varejo costuma ampliar o número de contratações. Empresa alega que movimento faz parte de ajustes no setor.
Por Plox
12/12/2024 09h29 - Atualizado há cerca de 2 horas
O grupo Carrefour, maior rede de varejo do Brasil, anunciou a demissão de 2.200 funcionários nos últimos dois meses de 2024. Os desligamentos, que começaram em novembro, envolvem tanto funcionários diretos quanto terceirizados, representando 1,5% do total de colaboradores do grupo, que atualmente conta com cerca de 130 mil empregados.
A empresa não detalhou os cargos afetados nem a proporção de terceirizados entre os demitidos. A medida surpreendeu o mercado, pois, tradicionalmente, o fim do ano é marcado pelo aumento de contratações temporárias para atender à demanda do período de festas. Segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), a expectativa de consumo para esta época é 12% maior em relação ao mesmo período de 2023.
Empresa defende decisão e destaca novas contratações
Em nota, o Carrefour justificou que as demissões fazem parte de um "movimento natural no setor varejista" e garantiu que não haverá impactos no atendimento aos clientes ou na operação de final de ano. A empresa também destacou que, em outubro, iniciou um processo de contratação para 6 mil vagas, que ainda está em andamento. As oportunidades estão distribuídas em 20 estados e no Distrito Federal, abrangendo funções como operador de caixa, repositor, açougueiro, padeiro, empacotador, frentista, operador de empilhadeira e técnico de manutenção.
Consultores apontam possível relação com o fechamento de lojas
Para o consultor Eugênio Foganholo, da Mixxer Desenvolvimento Empresarial, a decisão do Carrefour pode estar ligada ao fechamento de lojas em 2024. Entre janeiro e setembro, o grupo encerrou as atividades de 174 unidades e abriu apenas 27, somando 1.041 lojas em operação no país. Os supermercados foram os mais impactados, com 119 fechamentos no período.
"Gerir supermercados é mais complexo do que administrar hipermercados e lojas de conveniência. A necessidade de reposição constante de produtos perecíveis, como frutas, legumes e verduras, exige uma operação eficiente", explicou Foganholo.
Outro fator relevante é o desempenho do Atacadão, responsável por 70% das vendas do Carrefour no Brasil. Segundo dados da Varejo 360, a participação do Atacadão no setor de atacarejo em São Paulo caiu de 28,5% em 2023 para 28% em 2024, mesmo com a inauguração de 14 novas lojas e o fechamento de uma. Enquanto isso, concorrentes como o Max Atacadista, do grupo Muffato, aumentaram sua participação de 3% para 5% no mesmo período.
Desligamentos em período de alta chamam atenção no setor
A decisão de realizar cortes em plena alta de vendas foi vista como atípica por especialistas. Segundo o consultor Alberto Serrentino, da Varese Retail, desligamentos de funcionários administrativos ou de nível gerencial são comuns como parte de reestruturações internas. No entanto, se os cortes incluírem pessoal de loja, a medida se torna inusitada, já que o varejo alimentar está em plena temporada de pico de vendas.
"Normalmente, o setor tem uma alta rotatividade ao longo do ano, com o número de contratações e desligamentos se equilibrando. No entanto, a fase que antecede o Natal é marcada pelo aumento de contratações, não por cortes", comentou Serrentino.
Crise diplomática e boicote marcaram o ano do Carrefour
Além das demissões, o Carrefour esteve no centro de uma crise diplomática recente. Em 20 de novembro, o presidente global da empresa, Alexandre Bompard, anunciou que o grupo deixaria de comprar carne do Mercosul, incluindo o Brasil, alegando que os produtos não atendiam às normas de sustentabilidade exigidas pela França.
A declaração gerou uma reação imediata no Brasil, com frigoríficos ameaçando boicotar o Carrefour. Em 26 de novembro, a empresa recuou e Bompard enviou uma carta de desculpas ao ministro da Agricultura do Brasil, Carlos Fávaro.