MPMG denuncia grupo familiar da 123 Milhas por fraudes bilionárias

Grupo é acusado de crimes contra consumo, falência fraudulenta e lavagem de dinheiro, com prejuízos que afetam mais de 800 mil credores e danos estimados em R$ 1,1 bilhão.

Por Plox

12/12/2024 16h07 - Atualizado há 3 meses

O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) apresentou denúncia contra cinco integrantes do grupo econômico 123 Milhas. Os acusados, todos membros de uma mesma família com poder de decisão nas empresas, enfrentam acusações de crimes contra as relações de consumo, crime falimentar e lavagem de dinheiro. Caso sejam condenados, as penas podem variar de 10 a 30 anos de prisão para cada um dos envolvidos.

Além das penalidades criminais, o MPMG solicitou reparação dos danos materiais no valor de R$ 1,1 bilhão e R$ 30 milhões por danos morais coletivos.

 

Fraudes atingiram mais de 800 mil credores

As investigações apontam que mais de 800 mil credores foram lesados, incluindo 500 mil clientes que contrataram pacotes promocionais da empresa. O passivo do grupo ultrapassa R$ 2,4 bilhões. Entre as principais irregularidades estão fraudes no modelo de negócio e manipulações financeiras que agravaram a crise da empresa, levando-a à recuperação judicial.

Modelo de negócio deficitário e prejuízo milionário

Em 2021, a 123 Milhas lançou a “Linha Promo”, que permitia aos clientes adquirir passagens aéreas com resgate futuro. No entanto, os valores pagos pelos consumidores não eram convertidos imediatamente em bilhetes, sendo utilizados como fluxo de caixa da empresa.

Apesar de arrecadação significativa — R$ 57 milhões somente em junho de 2022 —, o modelo tornou-se insustentável. Entre junho de 2022 e agosto de 2023, a “Linha Promo” gerou prejuízo de R$ 835 milhões, já que os custos das passagens adquiridas superavam os valores antecipados pelos clientes.

Mesmo cientes das perdas, os responsáveis mantiveram o negócio e desviaram R$ 24 milhões para parentes, amigos e funcionários de confiança antes de solicitar recuperação judicial.

Foto: Divulgação/MPMG

 

Estratégias fraudulentas e lavagem de dinheiro

O crime falimentar foi caracterizado pela blindagem patrimonial e favorecimento a credores estratégicos, incluindo familiares e parceiros. Entre as práticas identificadas estão:

Distribuição de dividendos fraudulentos: Mais de R$ 26 milhões foram repassados aos próprios denunciados.

Confusão administrativa e financeira: Empresas do grupo desviaram R$ 100 milhões utilizando uma holding que não fazia parte da recuperação judicial.

Aquisição da Max Milhas: Em 2022, a Max Milhas foi adquirida e administrada por uma holding familiar, permitindo o monopólio do setor e o direcionamento de receitas para o mesmo grupo.

Os investigados também realizaram lavagem de dinheiro no valor de R$ 11 milhões, ocultando esses recursos por meio da empresa de publicidade Caeli, integrante do grupo econômico.

Operação Mapa de Milhas e desdobramentos investigativos

Em fevereiro de 2024, o MPMG deflagrou a Operação Mapa de Milhas, cumprindo 16 mandados de busca e apreensão e realizando quebras de sigilos bancário, fiscal, telefônico e telemático. As provas coletadas serviram de base para a denúncia.

Atualmente, o grupo 123 Milhas continua operando sob as marcas 123 Viagens e Max Milhas. O processo segue em andamento, com ampla repercussão para consumidores e o mercado de turismo.

Destaques