Por Plox
13/05/2022 10h32 - Atualizado há 8 diasO fim de restrições aos grandes eventos e a reabertura total da economia com o avanço da vacinação contra a Covid-19 já propicia um resultado prático no comércio de vestuário em Minas Gerais. As vendas de roupas, calçados e tecidos cresceram 50% em março deste ano, se comparado ao mesmo período do ano passado.
À época, o Brasil vivenciou um dos momentos mais críticos da pandemia sob os aspectos sanitários e econômicos. Os dados fazem parte da pesquisa mensal feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Mas apesar da elevação nos negócios, os preços no setor de vestuário subiram 1,26% em abril, acima da inflação de 1,06% e ocupando o quarto lugar dentre os maiores encarecimentos apontados pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Em um ano, a alta acumulada é de 5,16% em todo o Brasil. A carestia ocorre desde a produção nas fábricas e chega às peças que são comercializadas nas lojas. Na Lore, marca de BH que confecciona e comercializa vestuário feminino, o CEO Mauro Murta calcula um custo adicional de 50% para compra de aviamentos como botões, elásticos e zíperes, e de 20% para aquisição de tecidos.
Os tipos de panos que mais subiram foram o tricoline e viscose, utilizados na moda casual, e o crepe de alfaiataria, base para a vestidos e roupas de festas. Por outro lado, o volume de vendas também cresceu. Na distribuição de peças ao atacado, a meta foi superada em 35%.
A combustão tem sido os trajes festivos. “As pessoas estão comprando. Do início do ano para cá tivemos um grande aumento de vendas. Criamos grande expectativa para o dia das mães que foi bom, mas não como esperávamos. Mas o que as pessoas voltaram a querer mesmo foi vestido de festa”, aponta.
Apesar da intensa demanda, a oferta no mercado está reduzida, segundo Mauro. “Não tem tanta opção como antes da pandemia”, assinalou. Outro problema diz respeito à oferta de produtos. Há dificuldades para comprar tecidos e aviamentos no mercado interno, principalmente de insumos que são importados.
Na Lore, por exemplo, a matéria prima que vai ser utilizada no segundo semestre foi adquirida com antecedência. “Se não antecipar a compra, fica ainda mais caro”, diz.
Apesar do crescimento nas vendas e movimentação de clientes, lojas da capital precisam lidar com a pechincha dos clientes. É o que afirma Jacqueline Bacha, dona da Simone Modas, loja instalada na avenida Paraná, no hipercentro de BH.
Por lá, o vestuário é para todos os públicos - e a busca por ofertas também. “É um cliente muito sensível e muito resistente a qualquer tipo de preço. Nós fazemos o possível para não repassar essa pressão inflacionária ao consumidor final. Por R$ 1 de diferença ele questiona e cobra”, relata.
No momento, as peças de mais saída são moletons, jeans e peças íntimas. Os principais públicos são jovens e idosos. “Há uma pressão para o aumento de todos os custos neste cenário de inflação mundial após a Covid e com guerra. O preço do algodão e outras matérias primas são preocupantes. Temos índices de aumentos variados”, acrescenta Jacqueline, que também é diretora da Associação dos Comerciantes do Hipercentro.
Na Amor de Mãe, a empresária Márcia Machado diz que o crescimento de vendas ultrapassou o vestuário e chegou a outros departamentos como o de acessórios. “Não senti um impacto de impacto de diminuição de vendas, pelo contrário. Mas temos sentido um impacto de reclamação e insatisfação sobre os preços, porque houve um aumento geral, tanto no insumo, quanto no produto final e de manutenção da loja”, diz Marcia, que está à frente de três unidades nos shoppings Del Rey e BH e na avenida Prudente de Morais.
A empresária diz que tem lançado mão de ofertas e brindes para atrair a clientela em compras acima de R$ 100. Há até ingressos de shows para quem gastar mais de R$ 200. “O cliente ao mesmo tempo que se incomoda, ele vive a volta de eventos, aniversários para presentear”, destaca.
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De acordo com o economista-chefe da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Minas Gerais (Fecomércio MG), Guilherme Almeida, o aumento de preços nas confecções e no varejo decorre de problemas domésticos e internacionais.
“O choque do cenário externo provém de um choque de oferta proporcionado pelas restrições impostas pelo governo chinês ao processo produtivo pela postura de tolerância zero contra a Covid-19, que tem provocado lockdowns e paralisação das linhas de produção afetando a disponibilidade de produtos e insumos do mercado”, explicou Almeida.
Ele ainda cita a interferência causada pela guerra entre Rússia e Ucrânia que desequilibra o preço de algumas commodities, dentre elas o petróleo, afetando a precificação de toda a cadeia produtiva.
“Há também um choque adicional de demanda interna que foi impactada em 2020 e 2021. O varejo de vestuário sentiu muito as restrições impostas para contenção da pandemia com a queda na demanda e houve excesso de estoque com a suspensão de eventos. Mas com a normalização das atividades, há um aumento brusco da demanda sem o acompanhamento adequado da oferta de produtos e isso exerce pressão sobre os preços”, acrescenta Guilherme.
Para o economista, os varejistas podem apostar na negociação para arcar com os custos adicionais. “O repasse não cobre toda a inflação do produtor. Automaticamente o empresário já está absorvendo uma parcela desse custo”, aconselha. Outra dica aos comerciantes é adequar o estoque à demanda de mercado e apostar nas promoções.
“Pode lançar ações promocionais, de parcelamento, descontos para pagamentos à vista, mas não em políticas agressivas de desconto. O ambiente do comércio é altamente competitivo, então os comerciantes precisam criar ações além do preço como atendimento diferenciado, marketing”, sugere.