Rações intoxicadas levam à morte de mais de 240 cavalos no Brasil; um deles valia R$ 12 milhões
Animais foram contaminados por substância proibida encontrada em produto da Nutratta; haras sofre prejuízo milionário com a perda de garanhão avaliado em R$ 12 milhões
Por Plox
13/07/2025 22h00 - Atualizado há cerca de 23 horas
A morte repentina de 245 cavalos espalhados por propriedades nos estados de Alagoas, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro expôs uma crise sanitária inédita envolvendo rações para equinos.
Segundo informações do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), todos os animais que adoeceram ou morreram tinham consumido rações produzidas pela empresa Nutratta Nutrição Animal Ltda. A empresa ainda não apresentou um posicionamento atualizado, mas publicou uma nota oficial em 11 de julho sobre o caso.

O episódio mais simbólico ocorreu em Atalaia, Alagoas, onde morreu Quantum de Alcatéia, um dos garanhões mais valiosos do país. Avaliado em R$ 12 milhões, o animal era destaque da raça Mangalarga Marchador e apresentava sintomas graves de intoxicação antes de morrer. Ele vivia no haras Nova Alcateia, que relatou grande prejuízo emocional e financeiro.
As primeiras denúncias chegaram ao Mapa em 26 de maio. Desde então, o órgão tem conduzido uma investigação técnica minuciosa. O Laboratório Federal de Defesa Agropecuária (LFDA) analisou amostras e detectou a presença de alcaloides pirrolizidínicos — especialmente a monocrotalina, substância altamente tóxica para equinos, capaz de causar sérios danos neurológicos e hepáticos, mesmo em pequenas quantidades.
A origem da contaminação foi identificada como falha no controle da matéria-prima, que continha resíduos de plantas do gênero crotalaria, conhecidas pela geração da substância tóxica.
Carlos Goulart, secretário de Defesa Agropecuária, destacou a gravidade do ocorrido:
“Esse é um caso único. Nunca, em toda a história do Ministério, havíamos identificado a presença dessa substância em ração para equinos.”
Ele alertou ainda que a presença da monocrotalina é proibida em qualquer circunstância.
Diante das evidências, o Mapa instaurou um processo administrativo, lavrou auto de infração e determinou a suspensão da fabricação e venda de rações destinadas inicialmente a equinos. A interdição foi posteriormente ampliada para todos os tipos de rações.
Mesmo com a proibição, a empresa obteve na Justiça autorização para retomar parte da produção voltada a outras espécies animais. O Ministério recorreu da decisão, apresentando novas provas técnicas que reforçam os riscos e a necessidade da continuidade das medidas restritivas.
A Nutratta, por sua vez, manifestou solidariedade à comunidade equestre, reconhecendo a dor das perdas e destacando que está colaborando com as investigações. Em nota, a empresa afirmou que suas linhas de nutrição equina e bovina são desenvolvidas de forma independente e que não há registros de problemas com rações destinadas à bovinocultura.
Segundo a nota, a unidade de produção da linha equina foi interditada preventivamente em 4 de julho, e diversas amostras estão sendo analisadas em laboratórios credenciados. A empresa reforça que segue adotando medidas corretivas e preventivas desde os primeiros sinais do problema.
O Mapa enfatizou que continuará monitorando a situação, mantendo a sociedade informada com transparência. As ações de fiscalização foram intensificadas para proteger a saúde dos animais e garantir a integridade da cadeia de produção.
O secretário Goulart concluiu:
“Estamos acompanhando de perto. Precisamos garantir que todo o lote contaminado seja recolhido e que nenhum novo caso aconteça.”