Câncer é principal causa de morte em 115 cidades de Minas Gerais, revela estudo

Estado carece de infraestrutura e equipamentos essenciais para diagnóstico e tratamento oncológico

Por Plox

13/08/2024 08h25 - Atualizado há 2 meses

A cada minuto, uma pessoa é diagnosticada com câncer ou tumor benigno em Minas Gerais. Em 2023, o Estado registrou 80.856 novos casos, destacando-se como um dos mais afetados pela doença no país. Esse cenário alarmante é agravado pela precária infraestrutura da rede de saúde pública, especialmente no que se refere ao atendimento oncológico. Um estudo recente, conduzido pelo Instituto Lado a Lado pela Vida, em parceria com o Instituto Nacional do Câncer (Inca) e o Ministério da Saúde, revela que o câncer é a principal causa de morte em 115 municípios mineiros. Em outras 47 cidades, a enfermidade divide o primeiro lugar com doenças cardiovasculares.

Foto: Pixabay / Reproduçãp

Deficiências na infraestrutura e falta de equipamentos

Minas Gerais, com seus 853 municípios, conta com apenas 40 unidades de saúde credenciadas para atendimento de alta complexidade em oncologia, número insuficiente para a demanda. Além disso, esses centros carecem de equipamentos básicos essenciais para o diagnóstico precoce e acompanhamento de pacientes. O estudo aponta a ausência de 60 tomógrafos, 31 equipamentos de ressonância magnética, 101 mamógrafos e 126 aparelhos de tomografia por emissão de pósitrons (PET-CT), que são cruciais para identificar câncer em diversas partes do corpo.

A situação é ainda mais crítica fora dos grandes centros urbanos, onde a falta de especialistas e equipamentos compromete toda a linha de cuidados dos pacientes. “Quando chega o paciente com suspeita de câncer ou necessidade de rastrear, a gente não vai ter equipamentos de imagem suficientes para fazer essa análise com detalhes. E aí fica comprometida toda a linha de cuidados do paciente”, alerta o oncologista Igor Morbeck, do Comitê Científico do Instituto Lado a Lado pela Vida.

Escassez de profissionais qualificados

Além da carência de equipamentos, Minas Gerais enfrenta um déficit significativo de médicos especialistas. O estado possui o menor índice de profissionais registrados no Conselho Regional de Medicina, com apenas 2,91 médicos por mil habitantes, em comparação à média de 6,13 nas capitais brasileiras. No interior, essa média é ainda mais baixa, com 1,84 médicos por mil habitantes.

Dificuldade de acesso agrava situação dos pacientes

A falta de infraestrutura e profissionais qualificados resulta em diagnósticos tardios, o que aumenta significativamente a mortalidade dos pacientes. Marlene Oliveira, fundadora e presidente do Instituto Lado a Lado pela Vida, enfatiza que “o câncer hoje não é prioridade no país. O que a gente tem visto é que o paciente tem chegado ao sistema já em uma fase avançada da doença. E, quando ele chega já nessa fase avançada, fica muito mais complicado.” A situação é tão crítica que, em algumas regiões de Minas Gerais, a espera por uma colonoscopia, exame essencial para detectar câncer de intestino e colorretal, pode chegar a dois anos.

Luiz Alberti, gastroenterologista e professor da Faculdade de Medicina da UFMG, destaca que a realização de colonoscopias a partir dos 45 anos pode reduzir a incidência de câncer colorretal em 70%. No entanto, diante das dificuldades de acesso, ele sugere que, ao menos, seja realizado o exame de sangue oculto nas fezes: “É melhor do que não fazer nada.”

Financiamento insuficiente para o tratamento oncológico

Outro ponto crítico identificado pelo estudo é o baixo repasse de recursos federais para o tratamento do câncer. Segundo Igor Morbeck, o Ministério da Saúde destina menos de 3% do orçamento anual para a oncologia em todos os estados. Em comparação, países com sistemas de saúde eficientes investem cerca de 6% de seus orçamentos na área oncológica. Essa subfinanciamento agrava os desafios enfrentados pelos pacientes e profissionais de saúde no estado.

Posicionamento da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais

Em resposta às críticas, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) reconhece as dificuldades enfrentadas, como a falta de equipamentos e profissionais, e afirma que a oncologia foi definida como área prioritária de planejamento para os próximos anos. A secretaria destaca que estão sendo discutidas propostas para aumentar o aporte de recursos estaduais a fim de minimizar os déficits nos municípios mineiros.

A SES-MG também informa que tem realizado esforços para melhorar a identificação precoce de sinais e sintomas do câncer, além de encaminhar os pacientes para exames diagnósticos em tempo hábil. No entanto, reconhece a necessidade de melhorias nos fluxos regulatórios e na disponibilidade de especialistas em regiões específicas do estado. A Secretaria garantiu que a atenção primária e a referência para unidades secundárias estão sendo fortalecidas, e que a macrorregião do Jequitinhonha, que atualmente não conta com serviço de alta complexidade em oncologia, está em processo de implementação desse serviço.

Medidas para melhorar o atendimento oncológico

Entre as iniciativas da SES-MG, destaca-se a publicação de deliberações e protocolos clínicos para auxiliar no encaminhamento e diagnóstico dos pacientes oncológicos. Um dos projetos em andamento visa a substituição de equipamentos obsoletos, com o repasse de recursos para a compra de novos mamógrafos, contemplando 62 beneficiários no estado. Além disso, o Programa Mais Acesso a Especialistas, lançado em 2024, busca ampliar o acesso a consultas especializadas, exames e procedimentos terapêuticos, com foco na melhoria do diagnóstico precoce e na continuidade do cuidado oncológico.

Essas medidas, embora importantes, ainda enfrentam desafios significativos, principalmente em relação à implementação e ao financiamento adequado, para garantir que todos os pacientes em Minas Gerais tenham acesso a um diagnóstico precoce e a um tratamento eficaz para o câncer.

 

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