Farsa de brasileira sobre câncer para arrecadar R$ 30 mil causa indignação na Irlanda

Comunidade e doadores se revoltam após descoberta de golpe envolvendo falsa doença

Por Plox

13/08/2024 14h56 - Atualizado há cerca de 1 mês

Laís Basílio, uma brasileira de 23 anos residente na Irlanda, provocou indignação ao admitir ter mentido sobre um diagnóstico de câncer para arrecadar dinheiro. A jovem conseguiu mais de EUR 5.000 (cerca de R$ 30.155) por meio de uma vaquinha online, alegando falsamente estar em tratamento contra a doença. A revelação da farsa gerou revolta tanto na comunidade brasileira na Irlanda quanto entre os doadores e internautas.

Foto: Reprodução/GoFundMe
 

Confissão pública e pedido de desculpas

No último sábado (10), Laís Basílio publicou um vídeo em suas redes sociais pedindo desculpas pelo ocorrido. No vídeo, ela afirmou: "Se eu iniciei isso botando a minha cara aqui, eu vou terminar isso botando a minha cara aqui também. Estou aqui para arcar com todas as consequências, sejam quais forem. Gostaria muito de pedir perdão a toda comunidade brasileira, toda comunidade oncológica, eu sei que tudo isso cai sobre vocês". Basílio destacou que nenhum de seus familiares ou conhecidos estavam envolvidos na mentira.

A jovem já havia apagado todas as suas postagens das redes sociais, exceto o pedido de desculpas, na segunda-feira (12). A reportagem tentou contato com Basílio, mas não obteve resposta até a publicação.

A campanha falsa e suas consequências

A campanha fraudulenta foi lançada no final de maio na plataforma GoFundMe. Basílio alegou ter descoberto o câncer no final de 2023 e disse que, devido à doença, estava impossibilitada de trabalhar e precisava de dinheiro para pagar suas contas. "Agradeço a todos de coração e qualquer ajuda é bem-vinda", escreveu na página de arrecadação. Com 279 doações, a campanha alcançou mais da metade do valor inicialmente pretendido, que era de EUR 10 mil (cerca de R$ 60 mil).

A página continua aberta para doações, e até a última segunda-feira, a plataforma GoFundMe não havia respondido às tentativas de contato da reportagem. Internautas relataram que Basílio já vinha pedindo dinheiro antes de criar a vaquinha, e a história ganhou notoriedade nas redes sociais quando surgiram suspeitas sobre a veracidade do seu diagnóstico, especialmente após a jovem ser vista em atividades sociais como baladas e bares.

Repercussão na comunidade brasileira e a reação do podcast

Em uma entrevista concedida em maio ao Bolder Podcast, que aborda a vida de brasileiros na Irlanda, Basílio detalhou sua suposta doença, incluindo os sintomas iniciais e o tratamento. Ela chegou a afirmar que os médicos não dariam continuidade ao tratamento porque os medicamentos não estavam mais surtindo efeito, mencionando a necessidade urgente de um transplante de medula óssea para evitar que o câncer fosse declarado terminal.

O apresentador do podcast, Fillipe Cardoso, expressou o choque da comunidade após a descoberta da fraude. Ele mencionou que desde então, uma "caça às bruxas" foi iniciada para expor e se vingar de Basílio. "Muita gente fez campanha, orou, doou dinheiro e torceu por ela, e se sentem traídos neste momento", disse Cardoso. Quando começaram a surgir dúvidas sobre a história, Cardoso entrou em contato com Basílio, mas as respostas evasivas e as inconsistências no relato da jovem aumentaram as suspeitas.

Reações de organizações e internautas

No sábado (10), a ONG Amor, Simples de Doar, que apoia brasileiros com câncer na Irlanda, lamentou o ocorrido nas redes sociais. "Estamos profundamente decepcionados com as notícias recentes, mas não iremos parar. Existem outras pessoas que realmente precisam de ajuda, e vamos focar nossa energia em continuar a dar amor e apoio", declarou a organização, que havia ajudado a dar visibilidade ao caso de Basílio.

Após a revelação do golpe, surgiram relatos de que Laís Basílio teria retornado ao Brasil na madrugada de domingo (11), intensificando a revolta entre os internautas.

Impactos na confiança e nas doações

O advogado criminal Jorge Calazans alertou sobre as consequências negativas que casos como este podem ter para pessoas que realmente precisam de ajuda. "A superexposição de doenças nas redes gera desconfiança generalizada, especialmente em casos falsos, o que pode diminuir o número de doações", explicou. Ele destacou ainda que golpes como este aumentam o estigma e a discriminação contra aqueles que enfrentam doenças graves.

A advogada Claudia de Lucca Mano acrescentou que a disseminação de informações falsas pode resultar em consequências como o desabastecimento de medicamentos para aqueles que realmente precisam. O professor Walter Cintra, da FGV Saúde, enfatizou a necessidade de desenvolver canais confiáveis para que as pessoas possam ajudar quem realmente necessita, sem correr o risco de serem enganadas.

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