Sem pandemia, gasto do brasileiro com viagens salta 78% em dois anos

A maioria das viagens realizadas em 2023 foram nacionais, com 97% dos deslocamentos dentro do Brasil

Por Plox

13/09/2024 12h20 - Atualizado há cerca de 1 mês

Impulsionado pela recuperação do setor pós-pandemia de covid-19, os brasileiros gastaram R$ 20,1 bilhões em viagens nacionais em 2023, um aumento de 78,6% em comparação com 2021, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número de viagens realizadas também apresentou um salto significativo de 71,5% no mesmo período, atingindo 21,1 milhões de viagens em 2023.

Foto: Reprodução/Marcelo Camargo/Agência Brasil 

Impactos da pandemia e oscilações

Em 2020, no início da pandemia, o gasto com viagens nacionais foi de R$ 12,6 bilhões. No ano seguinte, esse valor caiu para R$ 11,3 bilhões, refletindo uma queda de 10,8% devido às restrições de deslocamento e medidas de isolamento. Em 2023, o valor disparou para mais de R$ 20 bilhões, um crescimento expressivo com a retomada das atividades turísticas.

Perfil dos domicílios e renda

A proporção de domicílios com pelo menos um morador viajante também mostrou recuperação. Em 2020, apenas 13,9% dos 71 milhões de lares brasileiros tinham alguém que viajou, caindo para 12,7% em 2021. Já em 2023, 19,8% dos 77,4 milhões de domicílios tiveram ao menos um viajante, representando um aumento de 68,5% em comparação com 2021.

A pesquisa destaca que 79,7% dos lares brasileiros em 2023 eram formados por famílias com rendimento mensal per capita menor que dois salários mínimos. No entanto, entre os domicílios com viajantes, apenas 62,9% recebiam menos de dois salários mínimos, indicando uma sub-representação dessa faixa de renda entre os viajantes.

Motivos para não viajar

A principal razão para não realizar viagens foi a falta de dinheiro, apontada por 40,1% dos entrevistados. Essa proporção sobe para 55,4% entre aqueles com renda de menos de meio salário mínimo e cai para 12,1% entre os que recebem quatro ou mais salários mínimos. Outras razões citadas incluem não ter necessidade de viajar (19,1%) e falta de tempo (17,8%).

Destinos e tipos de viagem

A maioria das viagens realizadas em 2023 foram nacionais, com 97% dos deslocamentos dentro do Brasil. O Sudeste foi a região mais visitada, recebendo 43,4% das viagens domésticas, seguido pelo Nordeste (25,3%) e Sul (17,4%). Cerca de 89,3% das viagens originadas no Nordeste tiveram como destino a própria região, enquanto no Centro-Oeste, 61,5% das viagens foram dentro da mesma área.

Meios de transporte e hospedagem

Carros particulares ou de empresa foram o meio de transporte mais utilizado em 2023, representando 51,1% das viagens, seguidos por avião (13,7%) e ônibus de linha (13,3%). Em relação à hospedagem, a casa de amigos ou parentes foi a principal escolha (41,8%), seguida por alternativas como albergues ou campings (26,2%). Hotéis, resorts ou flats responderam por 18,1% das hospedagens.

Motivações e tipos de deslocamento

Em 2023, 85,7% das viagens foram por motivos pessoais, com lazer sendo o principal motivo, superando visitas a familiares e amigos. A motivação por lazer cresceu de 33% em 2020 para 38,7% em 2023, enquanto as viagens para "sol e praia" diminuíram de 55,6% para 46,2%. A busca por "cultura e gastronomia" aumentou de 15,5% para 21,5% no mesmo período.

Desafios e perspectivas

Apesar do crescimento, a pesquisa revela desafios na democratização das viagens devido à desigualdade de renda. William Kratochwill, analista do IBGE, aponta que "há uma correlação direta entre o rendimento domiciliar per capita e a ocorrência de viagens, com domicílios de maior renda realizando mais viagens." A tendência é que a retomada continue em 2024, com o fortalecimento do turismo doméstico e a possível recuperação das viagens internacionais.

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