Hermeto Pascoal morre aos 89 anos no Rio

Gênio da música brasileira, o alagoano Hermeto Pascoal morreu cercado por familiares enquanto seu grupo tocava no palco. Ele estava internado no Hospital Vitória.

Por Plox

13/09/2025 21h34 - Atualizado há 1 dia

O sábado (13) marcou uma despedida que ressoará por gerações. O multi-instrumentista Hermeto Pascoal morreu aos 89 anos no Hospital Vitória, localizado no Rio de Janeiro. A morte aconteceu enquanto seu grupo se apresentava, um momento simbólico que parecia refletir a essência do artista, sempre entregue à música.


Imagem Foto: Redes Sociais


De acordo com uma nota publicada nas redes sociais do próprio músico, ele partiu cercado pela família e por companheiros de trajetória.
\"No exato momento da passagem, seu Grupo estava no palco, como ele gostaria: fazendo som e música. Como ele sempre nos ensinou, não deixemos a tristeza tomar conta: escutemos o vento, o canto dos pássaros, o copo d’água, a cachoeira, a música universal segue viva... Quem desejar homenageá-lo, deixe soar uma nota no instrumento, na voz, na chaleira e ofereça ao universo. É assim que ele gostaria. Gratidão por todo carinho ao longo do caminho.\"

Imagem Foto: Redes Sociais


Natural de Lagoa da Canoa, distrito de Arapiraca (AL), Hermeto nasceu em 22 de junho de 1936. Sua condição de albino o impediu de trabalhar na roça, o que acabou por aproximá-lo da natureza e dos sons ao redor. Desde a infância, improvisava instrumentos com objetos do cotidiano e tocava para os pássaros, revelando desde cedo sua relação única com o som.


Aos 10 anos, começou a tocar acordeão e, quatro anos depois, estreou ao lado do irmão José Neto na Rádio Tamandaré, em Recife. Sua trajetória pelas ondas do rádio seguiu com passagens por emissoras e orquestras como a Tabajara, na Paraíba, e a Rádio Mauá, no Rio de Janeiro.


Na década de 1960, mudou-se para São Paulo, onde fundou grupos como o Sambrasa Trio e o Quarteto Novo, este último ao lado de nomes como Airto Moreira, Heraldo do Monte e Theo de Barros. Com o Quarteto, participou de festivais e acompanhou artistas como Edu Lobo e Marília Medalha.



Foi na década seguinte que sua arte atravessou fronteiras. Levado aos Estados Unidos por Airto e Flora Purim, Hermeto gravou com Miles Davis — que o descreveu como “o músico mais impressionante do mundo” — e lançou álbuns marcantes como \"Slaves Mass\". Ao retornar ao Brasil, estruturou seu grupo fixo e gravou discos como \"Zabumbê-bum-á\" e \"A Música Livre de Hermeto Pascoal\". Apresentou-se em festivais internacionais como Montreux, na Suíça, e Live Under the Sky, no Japão, além de ter protagonizado momentos icônicos ao lado de Elis Regina.



Hermeto Pascoal foi premiado três vezes com o Grammy Latino e recebeu títulos de doutor honoris causa da Juilliard School (EUA), da Universidade Federal da Paraíba e da Universidade Federal de Alagoas. Em 2024, lançou o álbum \"Pra você, Ilza\", uma homenagem à sua companheira, e teve sua vida retratada na biografia \"Quebra tudo! – A arte livre de Hermeto Pascoal\", escrita por Vitor Nuzzi.


Sua última apresentação aconteceu em junho de 2025, no Circo Voador, no Rio de Janeiro, poucos dias antes de completar 89 anos. Na ocasião, transformou o show em uma vibrante celebração de aniversário.


Hermeto rejeitava classificações musicais. Preferia definir sua arte como “música universal”, navegando com maestria por gêneros como jazz, frevo, baião, música clássica e a popular brasileira, sempre guiado por uma liberdade criativa incomparável.


O artista deixa seis filhos, 13 netos e dez bisnetos. Seu legado, marcado pela ousadia, genialidade e improviso, permanece entre os mais ricos e originais da história musical do país.


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