Mercado reage à condenação de Bolsonaro e tensões com EUA
Dólar recua, real se valoriza e Ibovespa oscila após fala de Trump e decisão do STF
Por Plox
13/09/2025 08h14 - Atualizado há cerca de 7 horas
A manhã desta sexta-feira (12) começou com forte movimentação no mercado financeiro brasileiro, impulsionada por fatores políticos e externos. A condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 27 anos e três meses de prisão e as declarações recentes do governo norte-americano colocaram os investidores em estado de atenção.

O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, recuava 0,25% por volta das 12h40, alcançando 142.786 pontos, depois de atingir recordes na véspera. Simultaneamente, o dólar comercial mostrava queda de 0,65%, cotado a R$ 5,356 — o menor nível desde 14 de junho de 2024, segundo dados da CMA. A valorização do real, nesse contexto, acompanha a desvalorização da moeda norte-americana.
O cenário político ganhou ainda mais tensão com a declaração do chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Marco Rubio. Na quinta-feira (11), ele afirmou que os EUA responderiam “adequadamente” ao que classificou como uma nova “caça às bruxas” contra Bolsonaro.
\"Existe o risco de que os Estados Unidos coloquem mais alguma punição, seja sanção, seja tarifa\"
, afirmou Leonel Mattos, analista da StoneX. Segundo ele, a sentença imposta ao ex-presidente pode prejudicar qualquer tentativa de acordo bilateral para suavizar as tarifas comerciais impostas pelos EUA.
Na tentativa de conter oscilações cambiais, o Banco Central realizou dois leilões de linha às 10h30, ofertando US$ 1 bilhão ao mercado. Mesmo com essa movimentação, a reação foi mista. Os investidores também digeriam os dados econômicos mais recentes. O setor de serviços no Brasil registrou avanço de 0,3% em julho na comparação com o mês anterior, segundo o IBGE, marcando o sexto mês consecutivo de crescimento, apesar do cenário de juros elevados.
Nos Estados Unidos, o sentimento do consumidor caiu pelo segundo mês seguido em setembro, refletindo preocupações com inflação, mercado de trabalho e perspectivas econômicas. Essa retração veio acompanhada de dados sobre pedidos de auxílio-desemprego, que somaram 263 mil na semana encerrada em 6 de setembro — 27 mil a mais que na semana anterior, superando as projeções do mercado. Esse resultado reforçou as apostas de cortes nos juros pelo Federal Reserve, o banco central norte-americano.
O Índice de Preços ao Consumidor (CPI) também surpreendeu: subiu 0,4% em agosto, acima da previsão de 0,3%, mas ainda assim os analistas acreditam que isso não deve mudar as expectativas para a reunião do Fed marcada para 17 de setembro.
\"A inflação americana apresenta uma certa persistência, uma resiliência, uma dificuldade de estabilização\"
, avaliou Mattos.
No fechamento de quinta-feira (11), a moeda americana encerrou o dia cotada a R$ 5,391, uma queda de 0,27%. O Ibovespa, por sua vez, subiu 0,56%, atingindo 143.150 pontos, o maior patamar nominal de sua história.
No plano interno, o mercado acompanhou ainda os dados do varejo brasileiro, que mostraram retração de 0,3% em julho frente a junho, sinalizando o quarto mês consecutivo de queda. “Os resultados dos últimos meses reforçam nossa análise de que o varejo vem perdendo força ao longo deste ano”, afirmou Claudia Moreno, economista do C6 Bank. Segundo ela, segmentos como veículos, móveis e eletrodomésticos estão entre os mais afetados, devido ao impacto direto da taxa Selic ainda elevada.
Apesar dos ganhos registrados na quinta, parte do otimismo foi contido após a divulgação da nova pesquisa Datafolha, que indicou aumento da aprovação do governo Lula para 33%, o melhor índice do ano. O dólar reduziu sua queda e o Ibovespa se afastou das máximas do dia, após chegar a superar os 144 mil pontos durante a tarde.
A decisão do Banco Central Europeu de manter os juros em 2% ao ano também entrou no radar dos analistas, compondo o cenário internacional observado pelos investidores. Com a política monetária global em transição e os desdobramentos políticos internos, o mercado brasileiro segue em compasso de espera pelos próximos passos, tanto em Brasília quanto em Washington.