Tarifa dos EUA já impacta preços e ameaça o setor alimentício brasileiro

Café, carnes e pescados ficaram fora da lista de exceções e já encarecem cardápios e exportações após um mês de tarifa extra

Por Plox

13/09/2025 08h11 - Atualizado há cerca de 7 horas

Desde o início de agosto, uma nova tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros começou a redesenhar o panorama do comércio internacional e a pressionar o setor alimentício nacional. A medida, anunciada em julho, foi acompanhada por uma lista de 694 produtos isentos, mas itens-chave como café, pescados e carnes ficaram de fora da exceção.


Imagem Foto: Pixabay


No setor de alimentação fora do lar, os reflexos já são evidentes. A Federação de Hotéis, Restaurantes e Bares do Estado de São Paulo (FHORESP) estima um aumento de até 10% nos preços dos cardápios em restaurantes e bares, motivado pela alta no custo dos principais insumos. Apenas o café, que teve 30% do seu destino externo comprometido — cerca de 3 milhões de sacas de 60 quilos —, já começa a encarecer as operações.


Para Marcelo Marani, CEO da Donos de Restaurantes, a situação exige uma reestruturação estratégica no setor. Ele afirma que
“não se trata apenas de subir os preços, mas de rever toda a estrutura do negócio para continuar competitivo”

. Com a elevação nos custos, as margens ficam mais apertadas e o risco de desequilíbrio nas contas aumenta.


Embora a China tenha aberto seu mercado a 183 exportadoras brasileiras de café em julho, o impacto imediato da tarifa dos EUA permanece. Marani reconhece que a diversificação é positiva, mas alerta: “O problema é imediato para quem depende do mercado americano. A queda na demanda afeta diretamente o atacado, e os restaurantes acabam absorvendo essa pressão.”


O efeito da nova tarifa vai além do food service. A retração nas exportações pode influenciar o Banco Central na decisão de reduzir a Selic, atualmente em 15% ao ano, estimulando o crédito. Por outro lado, segmentos como o industrial e o aéreo sofrem com a perda de competitividade. A Embraer, por exemplo, vê seu espaço ameaçado frente a rivais como Boeing e Bombardier no mercado norte-americano.



Para Marani, o maior desafio agora é manter a clientela sem comprometer a saúde financeira dos estabelecimentos. “Quem não tem controle de caixa e visão de longo prazo vai sofrer. Não adianta vender muito se a margem desaparece”, ressalta. A saída, segundo ele, está em inovar no cardápio, negociar melhores preços com fornecedores e buscar mais eficiência. “Quem conseguir se adaptar, sobrevive; quem não fizer isso, corre sério risco de fechar as portas.”


Nos Estados Unidos, os consumidores também sentem os efeitos. Segundo o Departamento de Estatísticas do Trabalho dos EUA (BLS), o preço do café subiu 20,9% nos primeiros oito meses de 2025 — o maior aumento desde os anos 1990. Apenas em agosto, o avanço foi de 3,6%.


Inicialmente, empresas tentaram absorver parte das tarifas, como a taxa de 10% sobre grãos verdes em abril. Mas com as novas tarifas — 50% sobre o Brasil, 20% sobre o Vietnã e 19% sobre a Indonésia —, o cenário ficou insustentável para muitas cafeterias.


Um exemplo disso é a rede Corvo Coffee, em Nova York, que comunicou aos clientes um reajuste em seus preços no início de setembro. Uma xícara de café filtrado passou de US$ 2,50 para US$ 3,75. No comunicado, a empresa explicou: “Adiamos essa mudança pelo maior tempo possível, mas, para continuar oferecendo a vocês o mesmo nível de qualidade e confiabilidade, esse ajuste é necessário.”



Enquanto isso, o Brasil busca novas rotas comerciais, principalmente com a Ásia, para amenizar as perdas e fortalecer o setor no longo prazo.


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