Mulheres e a disparidade nas horas de trabalho doméstico
Estudo do Ipea aponta sobrecarga de 11 horas semanais para mulheres em comparação aos homens
Por Plox
13/10/2023 13h39 - Atualizado há mais de 1 ano
Mulheres no Brasil enfrentam uma notável disparidade em relação aos homens quando o assunto é a distribuição das horas dedicadas ao trabalho doméstico. Segundo uma pesquisa recente realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), simplesmente por serem mulheres, elas acumulam, em média, 11 horas a mais por semana em atividades domésticas não remuneradas em comparação aos seus contrapartes masculinos. A presença de crianças na equação intensifica ainda mais esse cenário, sendo o impacto da chegada dos filhos na rotina das mulheres significativamente maior do que no cotidiano dos homens.
Ana Luiza Neves, pesquisadora do Ipea, contextualiza a situação, destacando que as raízes desta discrepância estão firmemente plantadas em normas socioculturais. "A diferença nas atividades de cuidados e trabalhos domésticos se explica pelas questões de normas sociais", ressalta, associando maternidade e construções culturais onde homens são vistos como provedores e mulheres, como cuidadoras, à perpetuação dessas desigualdades também no mercado de trabalho.

O Impacto da Maternidade e a Importância da Adolescência
De acordo com o estudo, a inclusão de crianças pequenas na dinâmica familiar dobra a carga de trabalho para as mulheres, uma diferença que vai amenizando conforme os filhos crescem. Uma observação interessante é o alívio proporcionado aos pais pela presença de adolescentes, especialmente no caso das meninas. A pesquisa identifica uma tendência de que, embora ambos os filhos diminuam o tempo que os pais dedicam às tarefas domésticas, somente as filhas adolescentes contribuem para a diminuição das responsabilidades reprodutivas das mães.
O testemunho de Lidiany Krüger, 37, moradora de Águas Claras e funcionária da Secretaria de Planejamento do Governo do Distrito Federal, oferece uma perspectiva prática a respeito do assunto. Lidiany, que destina cerca de 20 horas semanais para as atividades domésticas, compartilha das preocupações e sobrecargas pontuadas pelo estudo, principalmente enquanto mãe de duas crianças.
Reflexões sobre Igualdade de Gênero e Saúde Mental
O relato de Lidiany ressoa como um alerta sobre a saúde mental das mulheres que, sobrecarregadas com a acumulação de funções, encontram-se vulneráveis a transtornos como o burnout. O cenário que Lidiany enfrentou até maio deste ano — assumindo integralmente as tarefas domésticas até ser diagnosticada com o distúrbio — reflete uma realidade compartilhada por muitas mulheres e propõe uma necessária reflexão sobre a distribuição equitativa de responsabilidades no ambiente familiar.
A discussão proposta pelo estudo do Ipea, além de lançar luz sobre as discrepâncias de gênero ainda presentes na sociedade brasileira, convoca a uma reflexão profunda sobre o papel de práticas culturais na perpetuação de estereótipos e desigualdades, não apenas no âmbito doméstico, mas também no profissional, e sobre como tais práticas impactam a vida, a carreira e a saúde mental das mulheres.