Menor oferta de gado e clima seco pressionam preço da carne bovina

Alta nos valores pagos ao produtor pode refletir diretamente no bolso do consumidor nas próximas semanas

Por Plox

13/10/2025 10h52 - Atualizado há cerca de 5 horas

O consumidor brasileiro pode sentir no bolso, nas próximas semanas, o reflexo de uma combinação de fatores que pressionam os preços da carne bovina. Dados recentes do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Universidade de São Paulo, mostram que o início de outubro já registrou alta nos valores praticados, tanto no estado de São Paulo quanto em outras regiões acompanhadas pelo instituto.


Imagem Foto: Pixabay


Um dos principais motivos apontados para essa tendência é a escassez de gado pronto para o abate, consequência direta de uma mudança no ciclo pecuário. Em 2024 e no primeiro semestre de 2025, o número elevado de abates, especialmente de fêmeas, reduziu significativamente a disponibilidade de bezerros e, por consequência, de animais para o abate em 2025. Essa redução de oferta contribui para a valorização do produto.



Além disso, o clima também tem papel determinante. O período de estiagem, típico do segundo semestre, afeta diretamente a qualidade dos pastos, dificultando a alimentação do rebanho. Mesmo com uma distribuição mais equilibrada de chuvas neste ano, a seca ainda compromete a engorda dos animais, o que impacta tanto a quantidade quanto a qualidade da carne comercializada.


Mariana Simões, analista de agronegócio da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Sistema Faemg Senar), destaca que, durante a seca, muitos produtores enviam os animais para o abate antes do ideal, por não conseguirem manter a alimentação adequada do gado.
“Temos produtores que não conseguem se planejar para ofertar alguns alimentos durante esse período e acabam enviando os animais para abate como estratégia”, aponta.

Ela explica que o fornecimento de ração à base de milho e soja pode minimizar os efeitos, mas nem todos conseguem adotar essa alternativa.


A expectativa do setor, segundo Simões, é de que haja uma recuperação gradual dos preços da carne ao longo de 2026. Apesar de uma leve retomada nos valores em comparação com o ano anterior — que registrou cotações abaixo da média histórica —, a virada do ciclo ainda não ocorreu como se previa até o primeiro semestre de 2025.


Nauto Martins, coordenador de bovinocultura da Emater-MG, também alerta para possíveis impactos na qualidade da carne e do leite. Com pastagens mais secas, a carne pode apresentar menor teor de gordura intramuscular, o que reduz seu valor em mercados que valorizam esse atributo.
“Tem alguns mercados que pagam por qualidade, então esse produto pode ter um menor valor porque terá uma menor concentração de gordura intramuscular, aquele marmoreio que a gente já fala”, explica.

No caso do leite, a estiagem provoca queda nos sólidos do produto, o que prejudica sua qualidade e reduz a captação pelas cooperativas e laticínios. A consequência direta para o consumidor é a elevação dos preços nas gôndolas, além de menor oferta disponível.



O cenário, portanto, é de atenção tanto para produtores quanto para consumidores. A soma de clima desfavorável, redução no número de animais prontos para o abate e o ciclo natural da pecuária indicam que o preço da carne bovina deve continuar em alta, com efeitos perceptíveis já nas próximas semanas nos açougues de todo o país.


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