Alteridade e empatia: conceitos distintos e fundamentais para a sociedade

Especialistas explicam a importância de compreender e respeitar as diferenças individuais

Por Plox

13/12/2023 08h32 - Atualizado há 8 meses

É comum haver confusão entre os termos "alteridade" e "empatia", mas, apesar de relacionados, eles possuem significados distintos. A empatia refere-se à capacidade de entender e compartilhar as emoções de outra pessoa, enquanto a alteridade envolve uma postura de respeito e valorização das diferenças entre os indivíduos, reconhecendo a singularidade de cada um.

O antropólogo Rubens Eci esclarece que a alteridade pode ser vista como um caminho para a empatia. Segundo ele, "Uma relação de compreensão, de afeto, de me colocar no lugar do outro, passa por uma relação direta entre mim e ele, entre mim e outro ponto de vista. É uma dinâmica em que precisamos nos colocar mais abertos e mais dispostos a compreender”.

No entanto, o cenário contemporâneo, marcado por individualismo e competição, apresenta desafios para a prática desses conceitos. Eci observa que a sociedade moderna enfatiza o indivíduo e associa valores à propriedade pessoal, o que frequentemente leva a relações de disputa. Ele destaca que essa é uma perspectiva histórica, remontando à expansão colonial, onde culturas eram vistas como superiores e tentavam impor seus valores a outras.

Rubens também aponta como esses processos impactam a subjetividade das pessoas: “Aquilo que é estrutural está muito fundo, são coisas que refletem e orientam a maneira de ser e viver. Então quando pensamos nos dias de hoje, com tudo que temos experimentado no mundo, com a história recente no nosso país, voltamos a questionar sobre onde fica a empatia com tanta violência, com tanto ódio, com tanto desrespeito. A discriminação que se mantém de uma maneira chocante afeta a relação de alteridade”.

João Gabriel Grabe, psicólogo clínico, também comenta sobre a relevância da alteridade e empatia. Ele destaca que "A alteridade e a empatia são necessárias para o nosso desenvolvimento enquanto pessoas humanizadas. Constantemente, vemos e ouvimos diferentes formas de intolerância, seja religiosa, sexual, política ou racial, que, além de atingir grupos, também afetam as pessoas de forma individual".

Apesar das dificuldades, Rubens Eci acredita que há caminhos para mudança. Ele enfatiza a importância do diálogo, do compartilhamento de ideias e experiências, e do papel da arte para provocar transformações sociais. Eci conclui: “Precisamos conversar o tempo todo, porque os conflitos estão presentes, em termos de classe, questões de gênero, patriarcalismo, machismo, questões étnico-raciais e o próprio racismo estrutural”.

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