Nova diretoria do Banco Central tem quatro meses para conquistar credibilidade

Com previsão de novas altas de juros em janeiro e março de 2025, gestão de Galípolo começa marcada pela continuidade do trabalho de Campos Neto

Por Plox

13/12/2024 08h44 - Atualizado há 3 meses

A nova diretoria do Banco Central (BC) terá quatro meses cruciais para consolidar sua credibilidade junto ao mercado financeiro. Isso porque o Comitê de Política Monetária (Copom) já sinalizou a possibilidade de dois novos aumentos na taxa básica de juros, cada um de um ponto percentual, programados para janeiro e março de 2025. Esse intervalo de tempo será decisivo para a equipe liderada por Gabriel Galípolo, que assumirá a presidência no lugar de Roberto Campos Neto.

A partir de 1º de janeiro, quatro das nove cadeiras da diretoria colegiada do BC serão ocupadas por novos nomes. Além de Galípolo, que já atua como diretor de Política Monetária, assumem também Nilton David (Política Monetária), Gilneu Vivan (Regulação) e Izabela Corrêa (Relacionamento e Cidadania). Destes, apenas Nilton David é um nome totalmente novo no Banco Central, já que os demais são funcionários de carreira ou já ocupavam cargos na instituição.

Continuidade na política monetária

A decisão anunciada pelo Copom na última quarta-feira (11) de elevar a Selic para 12,25% ao ano foi interpretada por analistas como um indicativo de que a gestão de Galípolo, ao menos no início, será uma extensão do trabalho realizado por Campos Neto. O cenário aponta para uma continuidade até que o novo colegiado tenha tempo para implementar suas próprias diretrizes.

Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor de Política Monetária do BC e sócio da gestora de recursos Mauá Capital, destacou que a mudança de gestão envolve desafios relacionados à credibilidade. "Existe uma questão de credibilidade, sem dúvida, até que a gente pegue um espaço de tempo bom só com a diretoria nova, que começa agora", afirmou. Para Figueiredo, a decisão de subir a taxa de juros foi "surpreendente", mas necessária diante das condições atuais. "Foi bem dura, mas com o que aconteceu, o BC tinha que ser firme", acrescentou.

Contexto de pressão econômica e política

A gestão de Roberto Campos Neto foi marcada por embates com o governo federal e críticas frequentes do presidente Lula e de lideranças do PT. As reclamações giravam em torno da condução da política monetária, especialmente sobre o nível elevado da Selic. Agora, o novo comando do BC terá de lidar com as expectativas de mercado e as pressões políticas, que não devem diminuir tão cedo.

O IPCA acumulado está atualmente em 4,87%, acima da meta de 4,5%, e o governo tem enfrentado dificuldades para retomar o controle das expectativas econômicas. O pacote fiscal, que deveria trazer medidas de contenção de gastos, gerou frustração no mercado e contribuiu para aumentar as incertezas.

Outro elemento que promete influenciar a economia global e, consequentemente, as decisões do BC, é o cenário internacional, especialmente com o retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. Essa mudança no panorama mundial pode impactar as taxas de juros globais e forçar novos ajustes na política monetária brasileira.

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