Água Santa em Frutal: um povoado à beira do esquecimento
Com população reduzida a 20 habitantes, o histórico local enfrenta o avanço das usinas de cana-de-açúcar
Por Plox
14/03/2024 07h44 - Atualizado há mais de 1 ano
O povoado de Água Santa, situado no município de Frutal, no Triângulo Mineiro, encontra-se em uma situação preocupante, com o risco iminente de desaparecer. Anteriormente uma comunidade vibrante, com centenas de moradores, escola e unidade básica de saúde, hoje vê-se reduzido a cerca de 20 pessoas e um cenário de casas abandonadas. Este declínio acentuou-se nos últimos 20 anos, após a chegada das usinas de cana-de-açúcar na região, alterando significativamente o modo de vida local.

Lourdes Silva, de 63 anos, residente nas proximidades e filha de Dona Maria das Dores Silva, personagem central na história do povoado, relata a mudança: "Após a vinda das usinas de cana-de-açúcar para Frutal, há mais ou menos 20 anos, a população originária foi diminuindo aos poucos. Muitas pessoas de lá trabalhavam para pecuaristas, tirando leite e morando no povoado. Mas, nos últimos anos, muitas famílias se mudaram para a cidade e trabalham nas usinas". A migração para áreas urbanas em busca de trabalho nas usinas é uma tendência que desafiou a permanência da comunidade local.

A ligação espiritual do povoado com os visitantes é mantida pela memória de Dona Maria das Dores Silva, conhecida por ter tido uma visão de Nossa Senhora Aparecida quando criança, levando à crença de que as águas de uma mina local possuíam propriedades santas. Esse legado atraía romeiros de várias partes do Brasil, especialmente no dia 12 de outubro, Dia de Nossa Senhora Aparecida. Contudo, após o falecimento de Dona Maria em 12 de janeiro de 2021, a frequência dos romeiros ao povoado diminuiu significativamente.
O entorno do Povoado de Água Santa está quase totalmente cercado por plantações de cana-de-açúcar, um reflexo das mudanças socioeconômicas impulsionadas pela agricultura intensiva. "Muitos fazendeiros arrendaram as suas terras para essa cultura e, além disso, antigos moradores morreram. A tendência, então, é não existir mais residentes no curto prazo, já que muitos deles são idosos", lamenta Lourdes Silva.
Dona Maria, em vida, contribuiu significativamente para a identidade cultural de Água Santa, inclusive com a construção de uma capela acima da mina d'água sagrada, inaugurada em 13 de maio de 1963. Sua morte, causada por insuficiência respiratória aguda, foi marcada por um luto oficial de três dias declarado pela Prefeitura Municipal de Frutal, evidenciando sua importância para a comunidade e a região.
A situação atual de Água Santa reflete um desafio comum a muitas comunidades rurais brasileiras, que enfrentam a pressão da urbanização e da transformação agrícola, colocando em risco sua existência e legado cultural.